Pesadelos podem indicar Parkinson e outras doenças; entenda
Problemas médicos causar perturbações no sono, o que significa que é mais provável acordar durante a fase REM e lembrar-se que teve um pesadelo
Pesadelos atrapalham o sono, mas não são algo que normalmente se menciona ao médico, certo? Pois deveria. Cientistas acreditam que sonhos ruins recorrentes podem fornecer pistas sobre a saúde, às vezes anos antes mesmo de sintomas da doença aparecerem. Os dados são do jornal Daily Mail.
No mês passado, cientistas descobriram que pesadelos regulares na infância pode ser um sinal de alerta precoce de transtornos psicóticos anos depois. O estudo, publicado na revista Sleep, acompanhou 6,8 mil pequenos e descobriu que aqueles com sonhos ruins frequentes (duas a três vezes por semana), entre 2 e 7 anos, eram três vezes e meia mais propensos a ter uma experiência psicótica, como alucinações ou ouvir vozes, na adolescência.
Fora isso, pesquisadores disseram que pesadelos frequentes podem indicar que as crianças enfrentam na vida real trauma emocional, como abuso ou bullying. Jogos de videogame ou computador violentos perto da hora de deitar também podem levar ao incômodo.
As pessoas sonham durante o estágio conhecido como movimento rápido dos olhos (REM), que ocorre, em média, quatro a cinco vezes por noite. E muitos problemas médicos causam perturbações no sono, o que significa que é mais provável acordar durante a fase REM e lembrar-se que teve um pesadelo, segundo Nicholas Oscroft, pesquisador do sono e cardiologista no Hospital Papworth, em Cambridge, Inglaterra.
Apneia do sono
Pesadelos regulares podem, por exemplo, ser um sinal de apneia do sono, que faz com que a respiração pare temporariamente devido a vias aéreas obstruídas. Um estudo de 2011 realizado pela Universidade de Swansea, no Reino Unido, avaliou o conteúdo do sonho de 47 homens com apneia do sono. Aqueles com sintomas mais graves relataram mais pesadelos “emocionalmente negativos e desagradáveis”.
Um levantamento de 2012, por sua vez, divulgado na revista Sleep Medicine, acrescentou que, quando pacientes vestiam máscaras para tratar a apneia do sono, 91% pararam de ter pesadelos. Ataques sufocantes e queda de oxigênio no cérebro, que ocorrem durante o problema, podem dar origem aos pesadelos, disse o especialista em medicina do sono Ahmed S. BaHammam, da Universidade Rei Saud, na Arábia Saudita.
Doença cardíaca
Pessoas que têm pesadelos regulares são três vezes mais propensas a sofrer de batimento cardíaco irregular, de acordo com um estudo de mais de 6 mil adultos, divulgados na publicação Journal of Medicine, da Holanda. Dor no peito era sete vezes maior naqueles que relataram ter maus sonhos frequentemente. Uma teoria é que as pessoas com doenças cardíacas, em especial insuficiência cardíaca (quando o coração não consegue bombear sangue adequadamente para os pulmões e outros órgãos), sofrem problemas respiratórios durante a noite, afetando o sono REM e aumentando as chances de lembrar dos sonhos.
Infecção
Qualquer tipo de infecção, de gripe grave a um problema nos rins, pode tornar pesadelos mais prováveis, disse o professor de neurologia Patrick McNamara, da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos. É que durante o sono não-REM, de ondas lentas, o sistema imune é reparado e reforçado. “Quando temos uma infecção, com ou sem febre, o corpo precisa mais de sono de ondas lentas. Isso atrasa o ponto no qual entramos no sono REM, o que pode levar a pesadelos ou sonhos vívidos bizarros”, explicou.
Parkinson
Pesadelos violentos frequentes podem ser um indicador precoce da doença de Parkinson, anterior ao aparecimento dos sintomas por até uma década, segundo o neurologista Robert Brenner, do Hospital Spire Bushey, na Inglaterra. Parkinson é uma doença neurológica que causa tremores musculares, rigidez e fraqueza. “O conteúdo dos sonhos de alguns pacientes é quase sempre o mesmo. Eles estão sendo perseguidos ou atacados e muitas vezes agem fora dos pesadelos, reagindo com socos e pontapés, e tendem a se machucar ou machucar seus parceiros”, disse o médico.
Isso ocorre porque 15% dos pacientes que desenvolvem Parkinson têm distúrbio comportamental do sono REM, o que significa que não estão paralisados durante essa fase do sono, e podem mover-se durante os pesadelos.
Um estudo, publicado na revista Neurology em 1996, descobriu que 38% dos pacientes com pesadelos frequentes de distúrbio comportamental do sono REM desenvolveram Parkinson, em média, 12,7 anos depois que começaram a experimentá-los.
Menopausa
Muitas mulheres relatam sonhos mais bizarros ao redor da menopausa, acrescenta o ginecologista Tony Boret. Até 10 anos antes da menopausa, os níveis de hormônio feminino estrogênio caem significativamente, o que afeta os níveis de serotonina, uma substância química do cérebro associada com as ondas de calor, alterações de humor e suores noturnos, e que pode levar a distúrbios do sono em cerca de 15% das mulheres.
Alguns especialistas também acreditam que a síndrome pré-menstrual pode levar a mais pesadelos. Um estudo de 2008 descobriu que as mulheres relataram significativamente mais sonhos desagradáveis do que os homens (30% dos sonhos mais recentes das mulheres eram pesadelos em comparação com 19% dos homens). O autor do estudo, o psicólogo Jennie Parker, da Universidade do Oeste da Inglaterra, disse que os pesadelos estavam ligados a mudanças de temperatura que ocorrem em determinados momentos do ciclo de uma mulher.
Problemas respiratórios
Às vezes, os pesadelos podem refletir preocupações com a saúde, tais como problemas respiratórios. Um estudo publicado em 2006 descobriu que aqueles com problemas respiratórios durante o dia frequentemente relataram sonhar que estavam sufocando. “Nossos cérebros sonhando lidam em metáforas e símbolos”, afirmou o neurologia Patrick McNamara. “Durante o sono REM, o cérebro tenta capturar e processar sensações avassaladoras, coisas que estão nos incomodando ou que não se pode colocar em palavras. Ele faz isso por meio das imagens que vemos em nossos sonhos.”