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Após sequestro, blogueira tem alopecia areata e fica careca

Camila Correa perdeu todos os fios de cabelos após sequestro-relâmpago; doença não é contagiosa e pode surgir por fatores emocionais

2 jul 2015 - 14h48
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Foto: Detalhe de Mulher/Facebook/Reprodução

Já imaginou se todos os pelos do seu corpo começassem a cair da noite para o dia? Foi o que aconteceu com a relações públicas Camila Correa, de 31 anos, que recebeu o diagnóstico de alopecia areata em 2010, quando notou falhas de cabelo na nuca. No ano seguinte, perdeu todos os pelos, incluindo sobrancelhas e cílios.

No começo foi um choque, mas hoje, ainda em tratamento, ela encara a situação de maneira “bem mais leve” e fala sobre o assunto no YouTube e no blog Detalhe de Mulher. “Consigo falar sobre a doença abertamente, ando de lenços numa boa e, na maioria das vezes, estou de full lace (peruca de aspecto mais natural). Na academia, uso somente uma faixa para proteger do suor", contou ela, que lançou uma loja online de perucas e acessórios para mulheres que passam por situações parecidas.

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Assim como Camila antes do diagnóstico, muitas pessoas não fazem ideia do que é alopecia areata. E justamente para aumentar o conhecimento sobre a doença, sete mulheres posaram carecas para a fotógrafa islandesa Sigga Ella, no projeto intitulado Baldvin. “Muitos estereótipos existem sobre gênero e um deles é que as mulheres devem ter cabelos longos. É necessário abrir a discussão e trabalhar contra esses estereótipos de gênero”, defendeu a fotógrafa.

A alopecia areata não é contagiosa e sua causa é desconhecida, mas sabe-se que sofre interferência da genética e de fatores autoimunes. “O que ocorre é uma ativação anormal do sistema imunológico, levando a uma reação contra os folículos pilosos do próprio corpo. Fatores emocionais como ansiedade, depressão e estresse não são causas, mas podem ser desencadeadores de uma crise de alopecia areata em algumas pessoas suscetíveis”, explicou o dermatologista José Rogério Regis Júnior, coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). De fato, Camila passou por um momento de abalo psicológico poucos meses antes de manifestar os sintomas: foi vítima de um sequestro-relâmpago ao sair do trabalho.

Camila Correa recebeu o diagnóstico de alopecia areata em 2010 e, no ano seguinte, perdeu todos os fios de cabelo
Camila Correa recebeu o diagnóstico de alopecia areata em 2010 e, no ano seguinte, perdeu todos os fios de cabelo
Foto: Detalhe de Mulher/Facebook/Reprodução

Quadro

Segundo o dermatologista, os casos mais graves e de pior resposta ao tratamento representam 5%. São chamados de alopecia areata total, na qual ocorre queda de todos os cabelos do couro cabeludo, e de alopecia areata universal, caracterizada pela perda total dos pelos de todo o corpo.

Os quadros localizados, com áreas arredondadas únicas ou múltiplas, são a maioria e têm uma melhor resposta ao tratamento, sendo que eventualmente pode ocorrer recuperação espontânea dos fios mesmo sem qualquer uso de medicamentos.

A autoestima de Camila se elevou com o uso de perucas
A autoestima de Camila se elevou com o uso de perucas
Foto: Detalhe de Mulher/Facebook/Reprodução

No ano passado, a colunista Alice Smellie, do jornal Daily Mail, revelou que, em outubro de 2011, descobriu um círculo de 5 cm de diâmetro sem cabelos, que depois passou para 10 cm de diâmetro. “Olhei para o local incapaz de dizer qualquer coisa. Em seguida, as lágrimas desceram. É difícil descrever porque perder um pequeno pedaço de cabelo era tão devastador. Não era uma ameaça à vida. Mas você não tem ideia de quanto valoriza o seu cabelo até que ele caia”, escreveu.

Segundo Alice, três meses antes, teve um susto relacionado à saúde, que pode ter sido o gatilho. Fora isso, tem histórico familiar de doenças autoimunes, como problemas de tireoide.  No fim de fevereiro de 2012, os fios voltaram a crescer com a ajuda de tratamentos. “Dois anos depois, ainda vou para o espelho todas as manhãs só para verificar os cabelos. No entanto, também sei agora que a parte realmente assustadora não era a perda de cabelo, mas a incerteza. E espero, se acontecer de novo, estar pronta para lidar com isso.”

Lenços também fazem parte dos looks de Camila, em tratamento há cinco anos
Lenços também fazem parte dos looks de Camila, em tratamento há cinco anos
Foto: Detalhe de Mulher/Facebook/Reprodução

Autoestima e vida social

A queda de cabelo, principalmente quando visível, mexe com a autoestima e vida social. A colunista Alice, por exemplo, se incomodava com a falha nos cabelos, apesar de localizada. Começou a evitar lugares com muitas pessoas e usava tiaras e chapéus. “Pacientes com quadros severos e sem reversão pelos tratamentos podem se beneficiar do uso de próteses capilares ou dermopigmentação. Grupos de autoajuda e acompanhamento psicológico são fundamentais nesses casos”, recomendou o dermatologista Júnior.

Quando a queda de cabelos da Camila evoluiu, foi um “momento bem desesperador”. Ela conta que chorou antes de dormir com medo de acordar sem nenhum fio na cabeça. Os fios realmente se foram e isso afetou sua autoestima e vida social. “Não me reconhecia nem de peruca e nem careca, e tinha horror a lenços. Ou seja, me afastei das pessoas, evitava lugares, pedi demissão do trabalho.”

Dentro de casa, com pais, irmão e marido, a situação sempre foi tranquila. “Já estava noiva quando meu cabelo caiu, me casei usando full lace (peruca), então meu marido super me apoia e ajuda em tudo”, comentou. 

Aliás, a peruca full lace (de aspecto mais natural) teve papel importante para voltar a se sentir bem consigo mesma. “Minha autoestima mudou da água para o vinho. Senti-me pronta para encarar o desafio da doença, mas sem precisar abrir mão da minha vaidade e de me sentir bonita.”

Hoje, Camila sai de lenço na cabeça quando sente vontade, mas, na maioria das vezes, está de peruca. “Como no meu medicamento tem ácido, nem que eu quisesse sair careca conseguiria, pois não posso tomar sol no couro cabeludo. Mas, sinceramente, acho desnecessário sair careca por aí. Sou a favor de me sentir bem e não ser o centro das atenções. Não acho que devido à alopecia areata preciso estar fadada a expor minha intimidade. Tenho vaidade, valorizo me maquiar, me sentir bem. O cabelo me completa, então sair sem full lace seria como sair sem roupa basicamente”, completou.

Camila ensina em vídeos na internet a fazer maquiagem para olhos sem cílios, usar produtos para disfarçar falhas, amarrar lenços. “As vendas de full laces e acessórios começaram como demanda das minhas leitoras, que queriam ter o mesmo cabelo que o meu. Em princípio, era um quebra galho, e as coisas foram dando tão certo que hoje consigo equiparar minha renda ao que o mercado paga para uma relações públicas com minha experiência.”

A fotógrafa Sigga Ella clicou sete mulheres carecas para aumentar o conhecimento sobre a doença
A fotógrafa Sigga Ella clicou sete mulheres carecas para aumentar o conhecimento sobre a doença
Foto: Sigga Ella/Reprodução

Tratamentos

“Os tratamentos não acabam com a alopecia areata, eles estimulam o folículo a produzir cabelo novamente e precisam continuar até que a doença desapareça. Os tratamentos são mais eficazes em casos mais leves”, disse a médica Letícia Bertazzi, que atua na área de tricologia (especialista em cabelos) e é membro da Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC). “Para diminuir a reação autoimune, usa-se medicamentos a base de corticosteroides ou imunossupressores. Quadros localizados podem ser tratados com medicações tópicas ou injetáveis localmente, enquanto quadros mais extensos requerem tratamentos sistêmicos com medicações orais.  Outra opção para diminuir essa reação autoimune é a fototerapia e o excimer laser”, listou o dermatologista Júnior.

“Existem casos em que a terapia multidisciplinar (psicólogo, tricologista e psiquiatra) é indicada”, comentou a médica Letícia. A duração do tratamento é variável porque a doença tem evolução imprevisível. Camila abriu mão de injeção no couro cabeludo “porque dói demais”, mas mantém o uso de géis no couro cabeludo e vitaminas diariamente. “Como ainda não tenho filhos e pretendo engravidar em breve, não posso fazer tratamentos com medicamentos mais pesados, chamados de depósito, que ficam no organismo por meses mesmo parando de tomar”, explicou.

“Pode haver reversão total do quadro ou não, depende muito de cada caso”, informou a dermatologista Karla Assed, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da American Academy of Dermatology (AAD). “Geralmente, os casos localizados têm melhor resposta ao tratamento, mas mesmo casos mais graves e de longa duração são passíveis de recuperação”, completou o dermatologista Júnior.

Camila está em tratamento há cinco anos. Em agosto de 2013, repilou 100% dos fios do cabelo, cílios e sobrancelha, ou seja, cresceram novamente. Meses depois, caíram outra vez. “Hoje, a sobrancelha cresceu bem e os cílios estão vindo sem o uso de medicamento neles, o que é um ótimo sinal. Já estou com a cabeça cheia de cabelinhos superfinos e sem cor alguma, o que também é um sinal de repilação dos fios, mas ainda estou careca. A expectativa é que os fios voltem e estabilizem, mas não existe prazo. Cada organismo reage em um determinado tempo e, sim, demora bastante o processo. Acredito na minha cura, não sei quando será, mas vai acontecer.” 

Prevenção

Infelizmente, não há como prevenir a doença. “As causas são desconhecidas, mas, como o estresse está associado como possível fator desencadeante, o ideal é reduzir o estresse”, recomendou a dermatologista Karla.

No projeto Baldvin com mulheres com alopecia areata, a fotógrafa Sigga Ella busca desafiar estereótipos
No projeto Baldvin com mulheres com alopecia areata, a fotógrafa Sigga Ella busca desafiar estereótipos
Foto: Sigga Ella/Reprodução
Fonte: Terra
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