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Apresentador testa ‘fruta milagrosa’ que deixa tudo doce e se surpreende com resultado

23 nov 2015 - 12h33
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O consumo excessivo de açúcar refinado é um dos vilões da epidemia de obesidade e problemas de saúde no mundo ocidental. E a busca por um adoçante que não causasse problemas à saúde e ao mesmo tempo agradasse ao paladar tem sido um grande desafio da ciência.

Adoro coisas doces e durante minha infância bebi litros e litros de bebidas açucaradas e comi montanhas de sobremesas.

Infelizmente, este caso de amor com o açúcar só me trouxe transtornos.

O açúcar apodreceu meus dentes e praticamente todos tiveram que ser obturados ou substituídos. Os carboidratos açucarados também aumentaram a quantidade de gordura no meu corpo e a quantidade de açúcar em meu sangue.

Recentemente, consegui reduzir meu consumo de açúcar, mas nunca consegui largá-lo. Não é surpresa alguma que venha tentando achar um substituto, algo que satisfaça meu desejo por doces sem os efeitos colaterais.

Tentei aspartame, sacarina, xilitol e estévia. Nenhum deles me convenceu, apesar de a estévia pura não ter um gosto tão ruim assim quando você a mistura com açúcar e adiciona a frutas cozidas.

Por isso fiquei intrigado quando a equipe produzindo uma nova série para a BBC, Tomorrow's Food ('A Comida do Futuro' em tradução livre), convidou-me para provar o extrato de uma fruta africana, já chamada de "milagrosa". Derivada de uma planta chamada Synsepalum dulcificum, a "fruta milagrosa" é diferente de qualquer adoçante artificial que já provei.

Isso porque ela não atua tornando os alimentos mais doces, mas sim fazendo com que eles tenham gosto mais doce.

A fruta contém uma molécula chamada miraculina, que interage com receptores na língua humana, mudando seu formato. Isso faz com que alimentos azedos ganhem gosto doce. Uma vantagem de alterar temporariamente as papilas gustativas - em vez de alterar o alimento - é o efeito que isso tem no sistema digestivo.

A ciência há anos discute se o uso de adoçantes ajudam ou não a perder peso. Uma recente pesquisa analisou os resultados de mais de 100 estudos e conclui que quando adoçantes substituem o açúcar em dietas eles podem levar ao emagrecimento.

Estudos da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, porém, apontam para uma série de resultados conflitantes em diferentes pesquisas, incluindo as que sugerem que o consumo de bebidas com adoçantes não apenas podem levar ao ganho de peso, mas a um aumento no risco de diabetes tipo 2.

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Os diferentes tipos de adoçantes

  • Aspartame: inodoro e cristalino pó cristalizado que deriva de dois aminoácidos e é 200 vezes mais doce que o açúcar
  • Sacarina: o primeiro adoçante artificial sintetizado (1879), que causa câncer em ratos de laboratório, mas que, segundo extensivas pesquisas, não oferece riscos para humanos
  • Estévia: adoçante natural derivado da planta de mesmo nome

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Ninguém ainda descobriu como adoçantes podem ter tais efeitos colaterais (peso e diabetes), mas um estudo israelense sugere que isso seja em decorrência dos adoçantes sobre as bactérias da flora intestinal. Publicado no ano passado pela revista científica Nature, o estudo pediu a um grupo de voluntários de peso normal e que normalmente não consumia adoçantes para, durante uma semana, consumir a dose máxima recomendável.

No final do período, metade dos voluntários apresentava sinais de intolerância a glicose, um estágio inicial do processo de desenvolvimento da diabete 2. Os pesquisadores israelenses acreditam que, nestas pessoas, as bactérias do intestino reagiram aos adoçantes e secretaram substâncias que causaram inflamações - algo já observado em estudos com animais.

O mais interessante é que a análise nas fezes dos voluntários que apresentaram intolerância aos adoçantes mostrou alterações nas bactérias intestinais.

"Nosso relacionamento com o 'mix' individual de bactérias intestinais é um fator decisivo para como os alimentos que ingerimos nos afetam", explica Eran Elinav, um dos cientistas envolvidos com o estudo. Elinav faz parte da corrente que defende uma reavaliação da disponibilidade de acesso aos adoçantes.

A miraculina é vendida em pílulas
A miraculina é vendida em pílulas
Foto: BBC / BBC News Brasil

Independentemente dos possíveis efeitos colaterais de adoçantes, o público é normalmente cauteloso em relação a eles, e é isso que os envolvidos com a Synsepalum dulcificum querem explorar.

O problema é que as frutinhas têm cultivo caro e vida curta. Cientistas japoneses agora se dedicam a tentar sintetizar a miraculina em laboratório, por meio de modificações genéticas em tomates. Por enquanto, a maneira mais simples e barata de conseguir uma dose de miraculina é comprar os tabletes que contêm a polpa desidratada das frutinhas.

E qual é o gosto delas? Pus uma em minha boca e esperei cerca de cinco minutos para que se dissolvesse. Tinha lido algumas opiniões entusiasmadas, dizendo que o extrato faria alimentos como laranjas ter o gosto de "uma fruta colhida nos Jardins do Éden". E que resolveria minha ânsia por açúcar.

Essa não foi minha experiência. A pílula que experimentei diminuiu um pouco da acidez de um limão, mas o gosto final foi estranhamente ruim. Um vinho tinto caro se transformou em uma abominação doce e borbulhante. Tentei comer um gomo de laranja, mas o gosto foi intragável. A única coisa positiva foi que a pílula tirou minha vontade de comer qualquer coisa até que o efeito tivesse passado - pelo menos uma hora.

Outros poderão ter uma experiência melhor, mas para mim a busca pelo adoçante perfeito continua.

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