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Como as baratas podem ajudar a salvar vidas humanas

O inseto tem despertado o interesse de cientistas para pesquisas relacionadas a antibióticos, robôs e para membros perdidos

4 nov 2015 - 18h02
(atualizado em 5/11/2015 às 10h51)
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O inseto no Parque Nacional Tsimanampetsotsa, em Madagascar
O inseto no Parque Nacional Tsimanampetsotsa, em Madagascar
Foto: Science Photo Library / BBC News Brasil

Insetos que fogem assim que você entra em uma sala e acende as luzes como as baratas, que geralmente são associadas a ambientes sujos, têm despertado o interesse não só de empresas de dedetização, como inspirado pesquisas em antibióticos, robôs e próteses para membros perdidos.

Em Havana, a barata cubana, inseto nativo de cor verde, é tida como um bicho de estimação e até aparece em histórias folclóricas. Entre as 4,5 mil espécies de baratas conhecidas no mundo, apenas quatro são consideradas pragas. A maioria delas não vive perto de residências de humanos e têm um papel ecológico importante comendo matéria morta ou em deterioração.

Algumas espécies têm cores vivas e desenhos. Outras são criaturas sociais e tomam decisões coletivas. Existem baratas que formam pares e criam os filhos juntas, já outras são sozinhas.

Elas podem emitir silvos, cantar e fazer sons percussivos para atrair um parceiro, além de sobreviverem às condições mais difíceis, como com pouca comida durante meses. Uma espécie, a Eublaberus posticus, pode sobreviver por um ano consumindo apenas água.

A mais pesada delas, a barata rinoceronte, vive no subterrâneo e chega a pesar 35 gramas, mede 8 centímetros e vive na Austrália. Uma das menores é uma praga encontrada na Europa e na América do Norte, a barata alemã, com apenas pouco mais de um centímetro.

Uma das curiosidades é que a borra de café é usada com frequência como isca em armadilhas para estes insetos.

Inspiração

Os cientistas têm nas baratas uma fonte de inspiração. Em 1999, essas criaturas inspiraram Robert Full, professor na Universidade da Califórnia, em Berkeley, a criar um robô de seis pernas que se movia mais rápido e facilmente do que qualquer outro.

Em sua palestra em 2014, na conferência TED, Full explicou como as patas elásticas, a forma corporal arredondada e os exoesqueletos flexíveis - feitos a partir de tubos conectados e placas - permitem que estes robôs se movimentem em terrenos mais complexos.

As patas das baratas também estão dando ideias a cientistas dedicados a criar a próxima geração de próteses de perna para humanos - a mecânica que dá elasticidade para as patas dos insetos é a base para a capacidade de uma prótese de mão mecânica de conseguir agarrar.

O objetivo, segundo Robert D Howe, do Laboratório de Biorrobótica de Harvard, é produzir uma mão que "deslize pelos objetos até envolvê-los, como uma mão humana levantando uma xícara de café".

E há também a barata robótica: uma fusão de uma barata viva e um minicomputador, cirurgicamente preso às suas costas. A partir de mensagens desse minicomputador, a barata pode ser direcionada para lugares aos quais os humanos dificilmente teriam acesso, como prédios que desabaram ou canos de esgoto arrebentados. Ali as baratas podem coletar dados.

"Na primeira vez que vi essas baratas fiquei de cabelo em pé", disse Hong Liang, pesquisadora-chefe do projeto na Universidade A&M do Texas. "Mas acabei ficando com algumas delas em meu escritório, como bichos de estimação por um tempo. Na verdade elas são criaturas belas. Elas se limpam constantemente."

A barata robótica consegue obter informações de prédios desabados, por exemplo
A barata robótica consegue obter informações de prédios desabados, por exemplo
Foto: Carlos Sanchez Texas A&M University / BBC News Brasil

Em junho, estudantes da Universidade Jiao Tong, de Xangai, na China, demonstraram como conseguiam controlar baratas com o pensamento. Traduzindo as ondas cerebrais em impulsos elétricos, eles conseguiram direcionar uma barata, com um receptor preso a ela, por vários túneis.

Na medicina

Na medicina também há pesquisas relacionadas a baratas. Há tempos os cientistas se perguntam como as baratas passam a vida em ambientes sujos e sem problemas de saúde.

Baratas podem ter papel importante para o desenvolvimento de tratamentos contra algumas bactérias
Baratas podem ter papel importante para o desenvolvimento de tratamentos contra algumas bactérias
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As baratas produzem o próprio antibiótico - e é um antibiótico poderoso. Com isso, elas podem ser cruciais no desenvolvimento de remédios para enfrentar bactérias como E. coli (que causa intoxicação alimentar), MRSA (que causa infecções na pele) e outras que são resistentes a muitos dos tratamentos atuais.

Curar com baratas não é algo novo. No século 19, o jornalista e escritor Lafcadio Hearn reparou em alguns tratamentos durante uma viagem pelo sul dos EUA. "Eles dão chá de barata contra o tétano. Não sei quantas baratas são usadas para fazer uma xícara, mas descobri que a fé neste remédio é forte entre muitos membros da população americana de Nova Orleans", escreveu ele.

Hoje, alguns hospitais da China usam um creme feito com pó de baratas para tratar queimaduras e, em alguns casos, um xarope de baratas é ministrado a pacientes para aliviar os sintomas de gastroenterite.

Quando Wang Fuming percebeu que a demanda por insetos estava crescendo na Província de Shandong, no leste do país, ele abriu uma fazenda de baratas. Mantém 22 milhões destes insetos em abrigos subterrâneos e diz que, desde 2010, o preço das baratas secas aumentou dez vezes.

Os insetos também podem ser comidos. A barata americana é uma iguaria na China. Ao fritá-la duas vezes em óleo quente, a barata ganharia uma casca crocante e um interior suculento, com a consistência de queijo cottage. Uma pitada de pimenta dá um sabor ainda mais marcante, dizem os apreciadores.

Com o crescimento da população humana e da demanda por proteína, talvez, a barata seja o futuro da alimentação mundial. Se as pessoas forem mais liberais.

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