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Menino aguarda transplante de medula e luta contra o tempo

Com um tipo de doença rara, Tancrède espera um doador de medula; a chance de compatibilidade é de uma em cada 100 mil pessoas

24 abr 2015 - 08h45
(atualizado às 10h11)
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Foto: Facebook / Reprodução

No último mês, a vida do francês Luc Michael Bouveret virou de cabeça para baixo. O seu filho, Tancrède, foi diagnosticado com uma doença severa no sangue, que evoluiu para uma leucemia mais complicada ainda. Na última segunda-feira (20), os médicos deram o prazo de três semanas para ele encontrar um doador de medula, uma vez que sua imunidade está muito baixa e pode não resistir. 

Por ser um câncer raro, não é combatido com quimioterapia, e somente um transplante de medula óssea salvaria sua vida. Ainda assim, as perspectivas são baixas: a chance de compatibilidade é de uma em cada 100 mil pessoas, e a de Tancrède sobreviver à cirurgia é de 30%.

A raridade do caso ganhou uma grande repercussão e famosos como Carol Celico, Neymar, Isabella Fiorentino e Kaká usaram as redes sociais para pedir a mobilização pela causa.

Luc é palestrante, terapeuta e mora em São Paulo há seis anos, onde fundou o Centro de Evolução do Ser New Ways, localizado em Pinheiros.

Tancrède nasceu em São Diego, na Califórnia, por meio de uma barriga de aluguel, tendo Luc como seu pai biológico.

Dois anos depois, ele se casou com o professor de ioga e mestre de reiki espanhol David Arzel e, com a mesma barriga de aluguel, geraram o segundo filho, hoje com 4 anos. O caçula, no entanto, é filho biológico de David, por isso, não é um doador compatível.  

O diagnóstico pegou a família toda de surpresa. A princípio, o menino apresentou pneumonia, que foi curada em dez dias. Mas os médicos notaram que uma anemia duradoura persistia.

Uma equipe do hospital Albert Einsten - onde vem sendo tratado - chegou à conclusão, após cinco dias de exames, que Tancrède estava com mielodisplasia.

Sabendo da gravidade da doença, Luc postou a notícia em sua fanpage no Facebook e teve 220 mil curtidas. “Já são três mil doações em nome de Tancrèd”, afirma o pai.

Ele conta que a AMEO, Associação de Medula Óssea que centraliza as doações, não tinha estrutura para receber tanta oferta, diante da comoção das pessoas. Então os pais apelaram ao Ministério da Saúde, que liberou recursos para ampliar a capacidade do local.

Foto: Facebook / Reprodução

“Não vou morrer”

Segundo Luc, apesar da gravidade do cenário, o filho nunca esteve tão feliz. “Tem nossa atenção 24 horas por dia. Ele diz que é como se tivesse uma gripe, diz que sabe que não vai morrer.”

O terapeuta afirma ainda que o menino está sempre conversando com os amigos da escola via Skype, já que não pode sair de casa com a imunidade tão debilitada. 

A rotina da família passou a ser de visitas diárias ao hospital e, nos dias de fraqueza, muitas transfusões de sangue.

A doença

A mielodisplasia é uma doença na medula, responsável pela produção do sangue, explica Adriana Seber, oncologista pediátrica do Hospital Samaritano de São Paulo. “Ela para o processo natural de formação das células do sangue, hemácias, glóbulos brancos e plaquetas. Estas células normalmente nascem dentro dos ossos, na medula óssea, amadurecem e vão para o sangue que corre nas veias”, afirma.

Este tipo de doença é muito raro e, segundo a especialista, em suas formas mais agressivas pode evoluir para uma leucemia aguda, que foi justamente o caso de Tancrèd. “Nos Estados Unidos, 10 mil pessoas recebem o diagnóstico de mielodisplasia anualmente”, informa.

Sintomas

De acordo com a profissional, os sintomas dependem de que tipo de célula sanguínea não está sendo produzida normalmente. Na ausência de glóbulos vermelhos, variam entre a pele pálida, cansaço e batimentos cardíacos acelerados – manifestações também associadas à anemia. Já quando faltam glóbulos brancos, geralmente aparecem marcas roxas no corpo e sangramentos em mucosas do nariz e gengiva.

O diagnóstico é feito pela medula óssea, mas um simples exame de sangue pode denunciar a quantas anda a produção de sangue no corpo.

O transplante

Adriana explica que, no transplante, as células doentes da medula óssea são destruídas. Em seguida, parte das células que produzem sangue no doador é retirada e injetada na veia do paciente. “Assim, em duas a três semanas o paciente pode voltar a produzir sangue normal”, afirma.

A primeira opção de doador é sempre um irmão compatível, ainda que a chance de compatibilidade seja de apenas 25%. A segunda é um doador voluntário compatível.

Segundo a especialista, o Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) é um dos maiores do mundo, com 3,5 milhões de voluntários.

Ela explica, ainda, que todos os registros do mundo são interligados por um sistema eletrônico BMDW (Bone Marrow Donors Worldwide). “Pacientes brasileiros podem receber células para transplante doadas em qualquer parte do mundo que faça parte do registro.”

Foto: Facebook / Reprodução

A tal da compatibilidade

O que complica ainda mais os casos de doenças deste tipo é a dificuldade de se encontrar um doador compatível. Segundo Adriana, cada raça tem alguns tipos de medula mais frequentes. “Assim, em geral orientais tem compatibilidade com orientais, brancos com brancos, negros com negros. Tem muito mais brancos descendentes de europeus que se cadastraram como voluntários em todos os registros. Assim, crianças brancas em geral têm muitos doadores, mas falta para outros, já que nosso povo é muito misturado”, explica.

A profissional reitera que o transplante é agressivo e pode trazer complicações graves. Além disso, mesmo depois da cirurgia, há o risco da doença voltar.

Doação: como funciona?

O procedimento de doação é dividido em duas etapas, conforme explica Marcello Augusto Cesar, hematologista do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim.

Em um primeiro momento, o doador recebe a aplicação do remédio GCSF, que serve para estimular a produção das células tronco na medula óssea e sangue periférico.

Em seguida, é feita a coleta da célula tronco, com um equipamento próprio. O procedimento todo dura cerca de quatro horas, e “é simples e seguro”, afirma o especialista. “O doador não é prejudicado. Antes da realização do procedimento, é submetido a avaliação médica e exames laboratoriais. Todos os cuidados prévios são tomados para que não tenha nenhuma reação ou prejuízo”, informa.

Caso este procedimento não funcione, a pulsão pode ser feita diretamente na medula óssea, pelo osso do quadril.

Adriana assegura que nenhum dos procedimentos envolve corte da pele do doador. “A medula é tirada do osso do quadril com agulhas e seringas. A coleta demora mais ou menos uma hora e a pessoa fica, em geral, pelo menos um dia internada. Depois de mais ou menos uma semana, o doador vai voltando ao normal.”

Apesar de não trazer nenhum malefício, o ato gera alguns incômodos, pondera a oncologista Adriana. “A doação pela medula precisa de anestesia geral, internação e, como tira sangue, o doador precisa tomar ferro para recuperar-se desta perda e não ficar com anemia. Na doação pelo sangue periférico o doador tem que ir ao hospital para ser aplicada a medicação que mobiliza as células, tem dor no corpo nos dias que recebe o remédio, fica várias horas com duas veias do braço picadas e ligado em uma máquina usada para doação, como se fosse uma hemodiálise. Mas tudo isso sem dúvida vale muito a pena para dar ao outro uma chance de vida nova e saudável”, completa.

Com todos os contras, Luc se mantém otimista na divulgação do caso, para alcançar mais doadores. “Tem momentos de desespero enorme, porque os médicos falam que o meu filho pode em semanas não estar mais aqui. Mas acreditamos muito no amor das pessoas.”

Serviço

Quem quiser fazer o cadastro para a doação, pode ir à rua Rua Marques de Itu, 570, em São Paulo. Em 20 minutos é feito o cadastro e a coleta da amostra de sangue.

Para outros estados: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=2639

Para quem está fora do Brasil, mas quer ajudar: http://bethematch.org/

Fonte: Terra
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