A Fundação Internacional do Mieloma Múltiplo, organização com representação no Brasil e na América Latina, reuniu especialistas nesta quinta-feira no Rio de Janeiro para discutir os atuais procedimentos e, principalmente, os entraves para o tratamento da doença no Brasil. O clima é de muita apreensão e de alerta, já que o país é considerado ainda muito atrasado no diagnóstico e no acompanhamento de pacientes que sofrem do mal.
O Mieloma Múltiplo é uma espécie de câncer da medula óssea ainda pouco conhecido e difundido, mas com abrangência importante entre a população brasileira e mundial, principalmente a de pessoas com mais de 60 anos. Para se ter ideia, entre as doenças do sangue, o Mieloma é hoje a segunda mais frequente, só perdendo para os linfomas. E também neste cenário, é a primeira em número de pacientes transplantados.
Alguns entraves principais podem ser apontados com relação às falhas do Brasil no combate e controle da doença, o e que comprometem, profundamente, o tratamento de qualidade no país. O primeiro, a dificuldade com que os medicamentos novos chegam ao mercado nacional.
A médica Angela Hungria, da Santa Casa de São Paulo e especialista no tema, critica a não aprovação, pela Anvisa, de um dos mais potentes e avançados remédios à disposição no mercado mundial. Trata-se do Lenalidomida – ou Revlimid. Hoje, só utiliza a droga no Brasil quem consegue autorização judicial. “É um absurdo o que acontece. Os estudos são claros e outros órgãos fora daqui já aprovaram o uso do remédio. Mas a Anvisa sempre alega que os estudos não foram suficientes (para autorizar o uso do remédio no Brasil)”, destaca a médica.
Segundo a especialista, o Velcade, outra droga largamente utilizada no mundo, também tem baixa circulação no mercado interno. O SUS, por exemplo, não banca a distribuição do remédio para os pacientes. O grande drama da não circulação de novos medicamentos no páis é que, no caso do Mieloma Múltiplo, quanto mais produtos estiverem à disposição, mais chances de sobrevida terá o paciente. Isso porque a doença não tem cura, os estudos ainda não estão em estágio avançado e as drogas já em circulação, como a Talidomida, podem em alguns casos provocar reações nos pacientes. Daí se necessitar de novas opções constantemente.
Este tipo de câncer também é usualmente conhecido pelos comprometimentos físicos agudos. O mal provoca quebra dos ossos do corpo, num estágio muito mais danoso que a osteoporose, por exemplo. Por isso, é importante testar todo o rol de tratamentos possíveis. Há casos, relata Vânia Hungria, de pessoas que chegam a reduzir até 12 cm na altura corporal, em função de danificação dos ossos.
Transplante
Outro atraso do Brasil em relação a muitos países é no transplante autólogo (do paciente para si mesmo). Segundo o médico Angelo Maiolino, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, em muitos casos da doença, o transplante é mais eficaz até que o tratamento convencional, por remédios. Hoje no Brasil já se admite submeter pacientes de até 70 anos ao procedimento, se as condições de saúde gerais permitirem. No entanto, o transplante ainda não é oferecido da forma ideal, sendo poucos os centros de saúde aptos para fazer a tarefa a contento.
Como se não bastasse, o diagnóstico da doença por parte dos profissionais da saúde também é frágil, atesta Vânia Hungria. Segundo ela, há muita gente morrendo da doença sem ter tido a detecção do quadro de Mieloma Múltiplo. “O médico no Brasil não pensa o diagnóstico. Por isso estamos aqui. Porque é importante disseminar a informação”. Os especialistas alertam que, apesar de acometer, geralmente, pessoas com mais de 60 anos, a doença tem surgido em pessoas mais jovens, o que também preocupa.
Troca de experiências
O médico Paul Richardson, da Harvard Medical School, referência no tratamento nos EUA, disse que a intenção é que o Brasil consiga avançar nos mecanismos de combate à doença. Ele fez questão de destacar que o tratamento contínuo é peça-chanve no caso do Mieloma, pelo fato de as recaídas durante o processo serem muito frequentes. O especialista defendeu o uso da Lenalidomida (a droga reprovada no Brasil) como um meio muito potente no combate ao mal, e também o Velcade. Ele lembra que os dois medicamentos podem ter menos efeitos colaterais que a Talidomida.
Apesar do quadro de alerta, não há números formais sobre a doença no Brasil. Extraoficialmente, fala-se em 30 mil pacientes em tratamento. Há ainda a informação de que 700 mil novos casos apareçam no mundo a cada ano.
Presente ao encontro sobre o Mieloma, o advogado Dorival Urino, de 68 aos, que está em tratamento contra a doença desde 2004, fez um relato sobre seu quadro clínico e defendeu a circulação de novos remédios para modernizar o combate à doença no Brasil. Ele se tratou com a Lenalidomida depois de uma recaída séria do quadro clínico e teve ótimos resultados.
“Tive muita dor, era da cama para o sofá, do sofá para a cama. Fiquei quase imobilizado, não dirigia e tive que usar um colete. Tomei o Revlimid (Lenalinomida) e certo dia, acordei sem nada”, comemora. E ainda manda um recado otimista: “não é porque está com Mieloma que quer dizer que a pessoa vai morrer”.
As discussões em torno do tema seguem até domingo, dentro da programação do Hemo 2012, Congresso de Hematologia que acontece no RioCentro, na Barra da Tijuca.
O período reprodutivo da mulher é dos 15 aos 50 anos aproximadamente. Isto representa mais ou menos o início do ciclo menstrual até o período em que começa a menopausa. "Hoje, com o avanço da medicina e a mudança da sociedade que tende a postergar a gravidez em prol da vida profissional, as mulheres têm engravidado mais tarde. Após os 35 anos, a reserva ovariana da mulher tende a diminuir e algumas já têm dificuldade para engravidar. Após os 45 anos, os riscos durante uma gestação aumentam bastante", diz Julio Elito Júnior, professor livre docente do Departamento de Obstetrícia da Unifesp
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Segundo um levantamento do Hospital das Clínicas, em São Paulo, o número de gestações tardias triplicou. Era de 5% da década de 1970 e atualmente é de 16,6%
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Enquanto uma mulher em idade normal de engravidar tem cerca de 80% de chance, aos 40, esse número cai pela metade
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O risco de abortos salta de 10%, em mulheres de 20 anos, para 40%, aos 40 anos
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Aos 20 anos, o risco de anomalias genéticas é de 0,5%. O índice dobra aos 35 anos, passa para 2% aos 37 anos, chega a 5% aos 40 anos e alcança 10% aos 44 anos. A principal anomalia é a Síndrome de Down, mas há também as síndromes de Edwards e de Patau, entre outras
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A medicina considera uma gravidez acima de 40 anos como de risco, independentemente do quadro de saúde da mulher ou do feto. Isso porque pré-eclâmpsia, aumento da pressão arterial e de maior ganho de peso na gestação são riscos mais comuns nas mulheres após os 35 anos. A recomendação é a de engravidar dentro do peso ideal e garantir que as condições gerais de saúde estejam boas para minimizar os riscos
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O professor da Unifesp Julio Elito Júnior alerta que as técnicas de reprodução assistida, que ajudam muitos casais com dificuldade para engravidar, não garantem a gestação em etapas mais avançadas. "Com o passar da idade, o sucesso do tratamento de reprodução assistida vai diminuindo. Muitas mulheres com mais de 45 anos não conseguem engravidar mesmo com estas técnicas. Quando ocorre o insucesso do tratamento com seus próprios óvulos existe a possibilidade de gravidez com doação de óvulos de uma mulher mais jovem e o sêmen do marido pode ser utilizado", diz
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Segundo o especialista, as mulheres não devem se prender a casos de mulheres que conseguem ter filhos em idades avançadas, que geralmente ganham muita repercussão na mídia, pois são exceção
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Alguns médicos apontam a interrupção do ciclo menstrual como maneira de garantir um maior estoque de óvulos, que poderiam ser usados para as tentativas de gravidez em idades mais avançadas. Segundo Julio Elito Junior, professor da Unifesp, a interrupção do ciclo menstrual não funciona. "O único método é o congelamento de óvulos. O único problema desta técnica é que o ideal seria congelar os óvulos numa idade mais jovem, mas nesta fase poucas mulheres sentem a necessidade de fazer isto", afirma Julio
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Por outro lado, o médico Eliano Pellini, da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), aconselha a interrupção da menstruação. Segundo ele, mulheres que pretendem adiar a gravidez, deveriam interromper a menstruação, como maneira de ter maior acervo de óvulos que podem ser usados em tentativas para engravidar, naturalmente ou por meio de procedimentos de reprodução assistida
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Segundo o médico da Unifesp, o congelamento também é controverso, pois não é garantia de sucesso. "O congelamento de óvulos é uma alternativa, mas não a solução para o problema. Um exemplo: uma paciente de 33 anos congela 10 óvulos e decide engravidar aos 42 anos. Descongela estes óvulos e 8 sobrevivem. Estes são fertilizados e 4 embriões são formados. A taxa de implantação do embrião é de aproximadamente 40%. Pode ser que ela não engravide (60% de chance). Desta forma, precisa ter cautela e a paciente precisa compreender esses dados para não se iludir e depois ficar arrependida", explica Julio Elito Júnior
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A American Society for Reproductive Medicine divulgou em outubro que a inseminação com óvulos congelados é tão eficiente quanto a feita com óvulos frescos. Mas não oferece a técnica como certeira para garantir uma gravidez tardia. "Não está claro quais mulheres seriam boas candidatas e se as que congelam óvulos recebem uma falsa sensação de segurança. A regra geral é a de que não há garantias. Muitas mulheres interessadas na técnica estão com mais de 30 anos ou já nos 40, e podem não ser bem-sucedidas", disse a médica Samantha Pfeifer, da Universidade da Pennsylvania
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Para o médico da Unifesp, uma das principais dificuldades está no planejamento da gravidez tardia, pois muitas mulheres não têm certeza de quando vão decidir ser mães. "Estas decisões são muito complexas. Depende da estabilidade profissional, da segurança no relacionamento e do desejo da maternidade. No entanto, o relógio biológico não para e muitas vezes quando o desejo da maternidade chega existe dificuldade para engravidar", disse Julio Elito Júnior
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Para se considerar um casal infértil é necessário o prazo de um a dois anos tentando engravidar sem sucesso. Os exames que devem ser feitos na mulher com dificuldade para engravidar são exames de hormônios para avaliar a reserva ovariana e checar se está ovulando adequadamente, ultrassonografia e exame para avaliar se as tubas uterinas estão desobstruídas. No homem, é realizada a análise do sêmen
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Uma mulher que decide engravidar após os 35, 40 anos, deve ser aconselhada sobre as dificuldades que pode enfrentar e, se precisar de um tratamento de reprodução assistida, ter noção dos riscos. Como por exemplo, as taxas de insucesso, a chance maior de gravidez de gêmeos, além dos riscos de síndromes fetais que surgem nas mulheres com mais idade
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Diversas doenças podem surgir ou serem adquiridas com o passar do tempo. Infecções ginecológicas podem causar obstruções das tubas, ovários policísticos podem dificultar a ovulação, doenças como endometriose podem acarretar dificuldades para concepção
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A obesidade também é um fator que pode atrapalhar a gravidez, pois acarreta alterações hormonais e interfere na ovulação
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Um levantamento feito pela Organisation for Economic Co-operation and Development mostra que, na Europa, a idade média da chegada do primeiro filho é 27,8 anos. Na Inglaterra e na Alemanha, a média é de 30 anos. Nos Estados Unidos, a idade é 25 anos, e no México, 21
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Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), a idade máxima recomendada para procedimentos de reprodução assistida é 50 anos
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Uma técnica usada pode ser a da inseminação artificial, quando o sêmen é inserido no colo do útero. Esse método é ideal para casais que não apresentam problemas graves de infertilidade, mas que têm dificuldade de ovulação ou baixa quantidade de espermatozóide
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A outra é a da fertilização in vitro o óvulo feminino é retirado do corpo da mulher e fecundado por um espermatozoide em laboratório. O processo começa com o estímulo da ovulação, seguido da retirada do óvulo com uma agulha introduzida no canal vaginal, da coleta dos espermatozoides e, finalmente, da fertilização. Se esta for bem-sucedida, o embrião é transferido para o útero. Essa técnica é indicada para mulheres com problemas nas trompas, sequelas de infecções e endometriose
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É possível identificar riscos de anomalias genéticas antes do embrião ser implantado
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Existem outros exames que podem identificar anomalias, por meio da retirada de um pedaço da placenta, pela análise do líquido amniótico ou pela investigação do sangue do cordão umbilical
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Há ainda uma outra versão da fertilização in vitro, chamada de ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides). A diferença está na largura da agulha usada, muito mais fina, o que causa menos desconforto na retirada dos óvulos