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Em busca do corpo perfeito, mulher adquiriu voz grossa

Capixaba que ingeriu anabolizantes há dez anos desenvolveu problemas na tireoide

4 ago 2015 - 13h26
(atualizado às 15h22)
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A capixaba Renata (nome fictício), de 33 anos, ainda sofre os efeitos da ingestão de anabolizantes feita mais de dez anos atrás: um único ciclo de uso de esteroides fez com que ela engrossasse a voz e desenvolvesse problemas na tireoide.

Mulher adquire voz grossa após usar esteroides (foto ilustrativa)
Mulher adquire voz grossa após usar esteroides (foto ilustrativa)
Foto: iStock

E ela diz que vê meninas cada vez mais novas usando essas substâncias indiscriminadamente, em busca de um corpo malhado.

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"Fala-se muito em menina com pernão, bundão. Você vai na academia e vê quase um padrão: todas têm o mesmo corpo, a mesma voz. Tenho dó. Dá vontade de falar, 'minha filha, daqui a dez anos você não sabe o que vai ser da tua vida'. Tenho amigas que tomaram e hoje têm dificuldade em engravidar. Colhemos o que tomamos dez anos atrás."

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Alexandre Hohl, não há dados oficiais sobre sobre a ingestão de esteroides por mulheres, mas "é inequívoco que aumentou o uso, e muito".

"Houve uma banalização dos riscos a respeito do uso com objetivos estéticos, na busca por um corpo melhor e mais sarado", diz ele.

A seguir, o depoimento de Renata:

"Usei uma vez só (um único ciclo de anabolizantes), mais de dez anos atrás, não foi algo frequente. Namorava um e eu era muito magrinha. Malhava mas não conseguia ganhar peso.

Queria me sentir melhor, mais segura, com mais autoestima. O meu namorado na época era forte, bombado, eu destoava ao lado dele.

Ele já fazia uso (das substâncias) e falava que elas tinham resultado rápido. Ele vendia (os produtos) na época, tinha alguém na farmácia que passava para ele.

Produtos costumam ser comprados online ou em academias, mas muitas vezes são receitados por médicos
Produtos costumam ser comprados online ou em academias, mas muitas vezes são receitados por médicos
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Daí eu acabei fazendo uso também, via oral ou injeções no glúteo. Sei que alguns também são aplicados no abdômen.

Foi um ciclo, com vários tipos de produtos (durante cerca de três meses), como Deca-Durabolin e Stanozolol. O efeito positivo é que na época eu ganhei peso, ganhei massa magra.

Não tomei (o segundo ciclo) por causa do lado negativo: tive muito pelo, muita espinha, a voz mudada... Me assustou um pouco.

Hoje dez, doze anos depois, fui diagnosticada com hipertireoidismo, e a causa deve ter sido o uso do anabolizante. Porque não tenho nenhum caso (da doença) na família.

Comecei a ter queda de cabelo, falta de libido. Acabo de fazer um exame que indicou que eu tenho que iniciar o tratamento. Vou tomar medicamento até a tireoide voltar ao normal.

Mas a minha voz nunca mais voltou ao normal.

É algo que me incomoda. As pessoas brincam, mexem comigo. Dizem que tenho voz de quem usou anabolizante. Às vezes ligam (prestadores de serviço) e acham que estão falando com um homem, isso me incomoda muito.

Me arrependo, foi uma bobeira. Sempre fiz atividade física e acho que conseguiria o mesmo resultado que obtive com anabolizante se tivesse uma boa alimentação, suplementação mais correta, mas ao longo de um tempo maior. Com anabolizante o resultado é muito rápido.

E eu tenho muita facilidade em perder peso, então perdi a massa magra. Só fiquei com o lado negativo. Nunca voltaria a tomar (anabolizantes), de jeito nenhum.

É muito comum ver meninas, inclusive umas mais novas, de 17, 16 anos, já fazendo uso de anabolizante. Até anabolizantes de animais as pessoas usam. Vi uma notinha no jornal falando de uma praia famosa aqui (no Espírito Santo), Bacutia - e as pessoas malham o ano inteiro para ir lá. A notinha (ironizava) que quem tinha voz grossa e perna cabeluda eram as mulheres da praia; e quem tinha a voz fina e peito depilado eram os homens.

Aqui em Vitória se fala muito em menina com pernão, bundão. Você vai na academia e vê quase um padrão: todas têm o mesmo corpo, a mesma voz.

Tenho dó. Dá vontade de falar, 'minha filha, daqui a dez anos você não sabe o que vai ser da sua vida'. Tenho amigas que tomaram e hoje têm dificuldade em engravidar. Colhemos o que tomamos dez anos atrás."

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