Esquizofrenia vira tema de 'Caminho das Índias'
Ele sofre com as pressões da família e não consegue lidar com o problema. O jovem Tarso, vivido por Bruno Gagliasso em
Caminho das Índias, começa a dar sinais de que não está nada bem emocionalmente e, ao longo da trama, receberá o diagnóstico de esquizofrenia.
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neurose e psicose
A ênfase no transtorno mental despertou a atenção do público, e a doença ganhou espaço para debates, tanto nos meios de comunicação quanto em conversas entre amigos.
Colocar em pauta temas polêmicos ou diferenciados já é marca registrada das novelas de Glória Perez. Assim como a esquizofrenia, a autora já abordou assuntos como crianças desaparecidas (em Explode Coração, que foi ao ar em 1995); clonagem e dependência química (O Clone, 2001); e imigração ilegal, cleptomania e homossexualismo (América, 2005).
Bem longe do núcleo indiano da trama global, a esquizofrenia vem à tona também com o excêntrico psiquiatra Dr. Castanho (Stênio Garcia) e seus pacientes. Tarso, em especial, ainda apresenta os primeiros sintomas da psicose. Frequentemente, isola-se no quarto, fala sozinho e chegou a cortar a própria mão em um momento de nervosismo.
Mas, quando o problema de saúde vier à tona, o personagem terá de enfrentar a situação em meio a outras pressões que já tem de lidar no dia-a-dia. O rapaz tem dinheiro, carro e mulheres bonitas ao seu redor, mas não conta com a compreensão dos familiares. Enquanto a mãe não mede esforços para acabar com seus relacionamentos por achar que as moças não o merecem, o pai quer forçá-lo a trabalhar na empresa farmacêutica da família, a Cadore.
Segundo o ator Bruno Gagliasso, seu personagem é importante para trazer esclarecimentos sobre a esquizofrenia. "O que mais acho bacana é que meu trabalho possa ter uma função social. Na novela, o Tarso vai sofrer com a falta de apoio da família, que não entende o que ele sente. Espero que a novela ajude a mostrar como encarar e tratar do problema da melhor forma", diz Bruno Gagliasso.
Para dar realismo às cenas, o ator visitou algumas clínicas psiquiátricas, leu livros e conviveu com portadores da esquizofrenia. Mas o ator garante que o laboratório não acabou: "quanto mais o personagem mostrar os traços de esquizofrenia, mais vou ter de estudar e conhecer".
A doença O nome esquizofrenia não é estranho aos ouvidos da maioria das pessoas, mas poucos sabem o que significa exatamente. "É uma doença crônica e marcada por alucinações, delírios, alterações na afetividade e problemas nas atividades sociais. Em momentos agudos, o paciente pode chegar a se machucar ou machucar alguém", explica o psiquiatra Marcos Gago, diretor da divisão assistencial do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro, um dos locais visitados pela equipe da novela.
Normalmente, o transtorno mental surge em pessoas com idades entre 15 e 25 anos, mas pode manifestar-se até por volta dos 40 anos. É grave, não tem cura e é classificado como uma psicose, já que o paciente perde a noção da realidade. "Atinge 0,8% da população mundial", afirma o médico.
Não existe uma causa definida para a patologia, mas há uma série de fatores que podem desencadeá-la. "Há componentes biológicos, sociais e psicológicos envolvidos. O que se sabe é que ter um caso de esquizofrenia na família aumenta a chance de que outros familiares desenvolvam a doença, embora a transmissão genética não seja tão certa e óbvia quanto ter olhos azuis", afirma o especialista Marcos Gago. Abandono, relações conflituosas, agressões e abusos sexuais também fazem parte da lista, assim como problemas na família - que é o caso do personagem Tarso.
Diagnóstico e tratamento A descoberta da doença não é nada fácil, uma vez que não pode ser detectada por meio de exames físicos. "Quando a pessoa apresenta os sintomas característicos, passa por um psiquiatra, que entrevista o paciente e a família. Depois, inicia-se o tratamento. Se, após seis meses, permanecer algum sintoma, é diagnosticada a esquizofrenia".
O tratamento é feito com remédios, trabalhos psicológicos e atividades complementares, que visam a ressocialização, como oficinas de pintura e de música. Em casos extremos, pode-se usar a eletroconvulsoterapia (aplicação de uma carga elétrica no cérebro, com o paciente anestesiado). "É raro. Reservada a casos extremamente excepcionais, em que há resistência ou quando a pessoa não responde a qualquer outro tratamento", enfatiza o médico do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro.
Engana-se quem pensa que os esquizofrênicos têm de permanecer internados e longe do convívio social durante toda a vida. "Internação é exceção e, quando feita, ocorre pelo menor tempo possível", diz o psiquiatra.
Como não existe cura, a pessoa sempre carregará algum sintoma, geralmente relacionado à afetividade. Se responder bem ao tratamento, pode levar uma vida como a de qualquer outra pessoa: construir uma família, trabalhar, passear.