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Esquizofrenia vira tema de 'Caminho das Índias'

5 mar 2009 - 08h53
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Ele sofre com as pressões da família e não consegue lidar com o problema. O jovem Tarso, vivido por Bruno Gagliasso em

Bruno Gagliasso interpreta um jovem que sofre por causa do transtorno mental
Bruno Gagliasso interpreta um jovem que sofre por causa do transtorno mental
Foto: Rafael Franca/TV Globo / Divulgação
Caminho das Índias

, começa a dar sinais de que não está nada bem emocionalmente e, ao longo da trama, receberá o diagnóstico de esquizofrenia.

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A ênfase no transtorno mental despertou a atenção do público, e a doença ganhou espaço para debates, tanto nos meios de comunicação quanto em conversas entre amigos.

Colocar em pauta temas polêmicos ou diferenciados já é marca registrada das novelas de Glória Perez. Assim como a esquizofrenia, a autora já abordou assuntos como crianças desaparecidas (em Explode Coração, que foi ao ar em 1995); clonagem e dependência química (O Clone, 2001); e imigração ilegal, cleptomania e homossexualismo (América, 2005).

Bem longe do núcleo indiano da trama global, a esquizofrenia vem à tona também com o excêntrico psiquiatra Dr. Castanho (Stênio Garcia) e seus pacientes. Tarso, em especial, ainda apresenta os primeiros sintomas da psicose. Frequentemente, isola-se no quarto, fala sozinho e chegou a cortar a própria mão em um momento de nervosismo.

Mas, quando o problema de saúde vier à tona, o personagem terá de enfrentar a situação em meio a outras pressões que já tem de lidar no dia-a-dia. O rapaz tem dinheiro, carro e mulheres bonitas ao seu redor, mas não conta com a compreensão dos familiares. Enquanto a mãe não mede esforços para acabar com seus relacionamentos por achar que as moças não o merecem, o pai quer forçá-lo a trabalhar na empresa farmacêutica da família, a Cadore.

Segundo o ator Bruno Gagliasso, seu personagem é importante para trazer esclarecimentos sobre a esquizofrenia. "O que mais acho bacana é que meu trabalho possa ter uma função social. Na novela, o Tarso vai sofrer com a falta de apoio da família, que não entende o que ele sente. Espero que a novela ajude a mostrar como encarar e tratar do problema da melhor forma", diz Bruno Gagliasso.

Para dar realismo às cenas, o ator visitou algumas clínicas psiquiátricas, leu livros e conviveu com portadores da esquizofrenia. Mas o ator garante que o laboratório não acabou: "quanto mais o personagem mostrar os traços de esquizofrenia, mais vou ter de estudar e conhecer".

A doença O nome esquizofrenia não é estranho aos ouvidos da maioria das pessoas, mas poucos sabem o que significa exatamente. "É uma doença crônica e marcada por alucinações, delírios, alterações na afetividade e problemas nas atividades sociais. Em momentos agudos, o paciente pode chegar a se machucar ou machucar alguém", explica o psiquiatra Marcos Gago, diretor da divisão assistencial do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro, um dos locais visitados pela equipe da novela.

Normalmente, o transtorno mental surge em pessoas com idades entre 15 e 25 anos, mas pode manifestar-se até por volta dos 40 anos. É grave, não tem cura e é classificado como uma psicose, já que o paciente perde a noção da realidade. "Atinge 0,8% da população mundial", afirma o médico.

Não existe uma causa definida para a patologia, mas há uma série de fatores que podem desencadeá-la. "Há componentes biológicos, sociais e psicológicos envolvidos. O que se sabe é que ter um caso de esquizofrenia na família aumenta a chance de que outros familiares desenvolvam a doença, embora a transmissão genética não seja tão certa e óbvia quanto ter olhos azuis", afirma o especialista Marcos Gago. Abandono, relações conflituosas, agressões e abusos sexuais também fazem parte da lista, assim como problemas na família - que é o caso do personagem Tarso.

Diagnóstico e tratamento A descoberta da doença não é nada fácil, uma vez que não pode ser detectada por meio de exames físicos. "Quando a pessoa apresenta os sintomas característicos, passa por um psiquiatra, que entrevista o paciente e a família. Depois, inicia-se o tratamento. Se, após seis meses, permanecer algum sintoma, é diagnosticada a esquizofrenia".

O tratamento é feito com remédios, trabalhos psicológicos e atividades complementares, que visam a ressocialização, como oficinas de pintura e de música. Em casos extremos, pode-se usar a eletroconvulsoterapia (aplicação de uma carga elétrica no cérebro, com o paciente anestesiado). "É raro. Reservada a casos extremamente excepcionais, em que há resistência ou quando a pessoa não responde a qualquer outro tratamento", enfatiza o médico do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro.

Engana-se quem pensa que os esquizofrênicos têm de permanecer internados e longe do convívio social durante toda a vida. "Internação é exceção e, quando feita, ocorre pelo menor tempo possível", diz o psiquiatra.

Como não existe cura, a pessoa sempre carregará algum sintoma, geralmente relacionado à afetividade. Se responder bem ao tratamento, pode levar uma vida como a de qualquer outra pessoa: construir uma família, trabalhar, passear.

Fonte: Especial para Terra
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