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Jamie Oliver defende taxação de bebidas com açúcar no Reino Unido

19 out 2015 - 19h24
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O chef e apresentador de TV Jamie Oliver pediu que o Parlamento britânico seja "corajoso" e introduza um "imposto do açúcar", que fosse aplicado sobre refrigerantes e outras bebidas com adição desse ingrediente.

Jamie Oliver passou a cobrar taxa sobre refrigerantes e outras bebidas com açúcar em seus restaurantes
Jamie Oliver passou a cobrar taxa sobre refrigerantes e outras bebidas com açúcar em seus restaurantes
Foto: BBC

Oliver vem fazendo campanha para que a medida seja incluída na estratégia do governo britânico para combater a obesidade infantil, a ser divulgada no próximo ano.

Ele disse ao Comitê de Saúde do Parlamento que esse imposto seria a mudança "mais significativa" a ser feita nesse âmbito no país. Além de aumentar a arrecadação, ela seria "profundamente simbólica", opinou Oliver.

Os parlamentares indicaram, no entanto, que o imposto não será criado, apesar de Oliver ter declarado acreditar que, de acordo com conversas que vem travando com autoridades sobre o assunto, a taxa não parece ter sido "descartada por completo".

Estima-se que um imposto de 20% sobre bebidas açucaradas possa gerar 1 bilhão de libras (R$ 6 bilhões) por ano. O apresentador defende que o valor seja investido no sistema de saúde pública e em escolas primárias.

"Deveríamos pensar grande e sermos corajosos. Quem está no comando do país? Os negócios que lucram com doenças ou nós?", disse Oliver, que passou a cobrar uma taxa sobre bebidas com adição de açúcar em seus restaurantes.

'Caloria vazia'

Existe uma preocupação crescente em grande parte do mundo com os efeitos do açúcar sobre a saúde, em relação a problemas que vão desde os prejuízos aos dentes a diabetes tipo 2 e obesidade. O açúcar é considerado por muitos nutricionistas uma fonte de "calorias vazias", porque não tem benefícios nutricionais.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade normal diária de açúcar em uma "dieta saudável ideal" é equivalente a 5% do total de calorias ingeridas - índice que não deve ultrapassar 10%. Isso se aplica ao açúcar que existe naturalmente nos alimentos e os que são adicionados em sua fabricação.

A recomendação da OMS para uma pessoa adulta é de um consumo de 2 mil calorias por dia. Nesse cenário, o normal de açúcar seria consumir 25 gramas, ou 6 colheres de chá, e no máximo 50g por dia, ou 12 colheres de chá. Para crianças, os limites são ligeiramente menores.

Uma única lata de refrigerante contém, em média, nove colheres de chá de açúcar, superando em 30% a recomendação da OMS para sua ingestão diária ideal para um adulto. Para Oliver, é correto criar medidas restritivas voltadas para essas bebidas, porque as pessoas não se dão conta da quantidade de açúcar há nelas.

'Vilanização'

Em nota, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) diz que a associação entre malefícios à saúde e o consumo de açúcar não reflete "todas as evidências científicas disponíveis".

Segundo a entidade, "cinco grandes organizações científicas e de saúde concluíram que o consumo de açúcar não está associado às causas de doenças crônicas, como diabetes e obesidade" e que "não há provas consistentes de que açúcares afetem a obesidade mais do que qualquer outro macronutriente".

"Ativistas vêm exigindo reformulação de produtos, taxação e outras políticas restritivas para reduzir a ingestão de calorias, mas dados da World Sugar Research Organisation apontam que o consumo per capita de açúcar, sal, gordura e calorias vem caindo no Reino Unido nas últimas décadas e, no entanto, desde 2002, o peso médio de um inglês adulto aumentou dois quilos", afirma a Unica.

"E um estudo da Universidade Stanford de 2014 aponta que a inatividade e, não uma maior ingestão de calorias, está ligada ao aumento da obesidade na população. A 'vilanização' do açúcar desvia o foco de atenção da sociedade no que diz respeito à promoção de hábitos saudáveis como um todo."

'Causas complexas'

Autor de uma petição em prol do imposto, que teve mais de 150 mil assinaturas, Oliver argumentou no Parlamento que a criação do imposto seria equivalente a disciplinar crianças. "Quando meus filhos são malcriados, eles ficam de castigo. Este imposto é o mesmo que isso".

O Departamento de Saúde britânico disse em nota que o governo "comprometeu-se com um limite de impostos para não elevar o custo de vida no Reino Unido nem comprometer sua produtividade e crescimento econômico".

"As causas da obesidade são complexas, envolvem uma série de fatores ambientais, de estilo de vida e alimentares, e lidar com isso requer uma abordagem ampla. Por isso, o governo está avaliando várias opções para combater a obesidade infantil."

Na audiência no Parlamento, Duncan Selbie, diretor da Public Health England, uma agência do Departamento de Saúde, defendeu sua decisão de não publicar uma revisão das políticas para redução do consumo de açúcar no país.

A agência avaliou medidas, como o imposto sobre açúcar. E, apesar de o documento estar pronto, ainda não foi sido divulgado - algo criticado pelo comitê do Parlamento britânico. Selbie disse que não existe uma "conspiração" em curso e afirmou que a revisão será publicada.

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