PUBLICIDADE

Luta contra Aids reúne freiras, prostitutas e usuários de drogas na Tailândia

21 nov 2013 - 09h38
Compartilhar

Freiras católicas, sacerdotes budistas, profissionais do sexo e usuários de drogas trabalham lado a lado em uma conferência internacional em Bangcoc, na Tailândia, para trabalhar na árdua tarefa de erradicar a Aids na região da Ásia-Pacífico.

Nos últimos anos, as organizações sociais ganharam muita relevância nas reuniões do Congresso Internacional sobre Aids na Ásia e no Pacífico (ICAAP), onde batas e túnicas se misturavam entre os chamativos vestidos das transexuais e dos trajes indígenas.

"Nenhuma nova infecção, nenhuma morte por Aids e nenhuma discriminação" é o lema do congresso que ocorre até amanhã, sexta-feira, na capital tailandesa, o qual reúne cerca de 4 mil autoridades de mais de 20 países.

Na reunião, os envolvidos evitam usar termos como "prostituta" e "drogados", os quais são substituídos por "trabalhadora do sexo" e "usuários de drogas", enquanto "homens que mantêm sexo com homens" são definidos em uma realidade mais ampla que a homossexualidade.

Estes coletivos exigem o fim da criminalização de suas atividades na Ásia-Pacífico, onde a repressão vista em muitos países, segundo eles, dificultam o acesso aos serviços de prevenção e tratamento da Aids devido ao preconceito que sofrem.

Para as ONGs de profissionais do sexo, na contramão do oficial, o lema que resume à região se limita a "nenhum financiamento, nenhuma reforma política e nenhuma vontade política", assinalou à Agencia Efe Jules Kim, presidente da australiana Aliança Escarlate.

"É preciso terminar com a criminalização. Os policiais são os que mais abusam das mulheres, já que as prendem pelo exercício de seus trabalhos. Os preservativos são para nossa proteção, não para serem usados como uma prova para nos incriminar", explicou a profissional do sexo e ativista.

Jules exige uma "ação imediata" por parte dos governos em nome da legalização da chamada prostituição, uma iniciativa que, segundo ela, conta com o respaldo da Unaids e do próprio secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

Ao lado do espaço das funcionárias do sexo, trabalha a irmã filipina Mercedes Karuna Placino, das Filhas da Caridade, junto com religiosos budistas e muçulmanos, todos muito próximos dos agrupamentos juvenis e do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT).

Mercedes Karuna, que há 20 anos trabalha com portadores do vírus HIV na Tailândia, assegurou à Efe que seu trabalho não é impor sua moral ou seu estilo de vida, mas acabar com a discriminação das pessoas que precisam lutar contra a Aids.

"Agora, as pessoas não morrem tão rápido como antes, mas, por outro lado, acabam sendo excluídas pela falta de acesso ao tratamento. As ONGs e as comunidades estão trabalhando duro para que todos tenham acesso aos tratamentos contra a Aids", afirmou a freira filipina, vestida com um hábito cinza.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), apenas 51% dos doentes tem acesso aos tratamentos anti-retrovirais na região, comparado com 61% da escala mundial.

Para a freira filipina, a orientação sobre os riscos da Aids deve ser iniciada durante a educação das crianças, mas, uma vez que uma pessoa adulta contraiu o vírus, o "importante é promover e garantir seus direitos", independente de sua orientação sexual e valores morais.

"No entanto, muita coisa mudou. Antes, as pessoas conservadoras não aceitavam este tipo de pessoas, mas, como dizem os budistas, todos nós vivemos no mesmo planeta. Agora, nossa colaboração é maravilhosa. O importante é como prevenir o HIV e reconhecer as necessidades das pessoas com Aids", completou a irmã.

De acordo com Sam Nugraha, da Rede Asiática de Consumidores de Drogas (ANPUD, na sigla em inglês), a criminalização de seu coletivo na Ásia evita que muitos evitem os programas de prevenção da Aids.

"Em vez de pegarem os 'peixes grandes', que têm contatos políticos e internacionais, a polícia prefere deter e prender os usuários e dependentes. Como vão se sentir seguros indo a uma clínica para fazer testes de Aids?", criticou.

A ANPUD, que nasceu em 2009 a partir da cooperação de grupos que já trabalhavam há mais de uma década com usuários de drogas, defende a legalização do consumo próprio e o fim do preconceito criado em torno do coletivo.

"Eu não me drogo há 14 anos, mas continuo sendo considerando um consumidor porque ainda sinto a dependência. Não estamos aqui para dizer o que as pessoas devem fazer ou não. Nossa reivindicação é que haja serviços públicos para todos e que os usuários não sejam tratados como criminosos", explicou Nugraha, nascido na Indonésia.

No último ano, 350 mil novos casos de Aids foram registrados na Ásia-Pacífico, com um total de 4,9 milhões de infectados, segundo a Unaids, que alerta que a doença tem grande prevalência entre homens que fazem sexo com outros homens, transexuais e usuários de drogas injetáveis.

EFE   
Compartilhar
Publicidade