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Microcefalia recua, mas nova epidemia de zika preocupa em PE

Mudança nos números se deve a fatores como redução do pânico em relação à má-formação e ajuste ao novo protocolo para notificações

10 fev 2016 - 16h09
(atualizado às 17h18)
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Uma nova epidemia de altas proporções de zika, chikungunya e dengue causa preocupação em médicos em Pernambuco, que lida com o mais alto número de casos suspeitos e confirmados de microcefalia no País.  As ocorrências recentes da má-formação em bebês têm sido associadas ao zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

Grávida no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Recife
Grávida no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Recife
Foto: BBC Brasil

Mas, desde o início de janeiro, o número de novos casos registrados em todo o País – que chegou a crescer mais de 40% por semana em dezembro – começou a cair.

Atualmente, o Ministério da Saúde investiga 3.670 casos suspeitos de microcefalia. Cerca de 400 foram confirmados e 700, descartados. A queda nas notificações provocou questionamentos sobre a qualidade do registro de casos no País.

De acordo com o ministério, a mudança nos números se deve a fatores como redução do pânico em relação à má-formação e ajuste dos serviços de saúde ao novo protocolo para notificações – que estaria evitando erros no registro de casos.

Especialistas também levantaram a hipótese de subnotificação de casos de microcefalia no passado, o que explicaria o número atual maior.

No entanto, para médicos que tentam comprovar a ligação entre microcefalia e zika, o alto número de bebês registrados nos últimos meses de 2015 também se deve ao fato de que eles foram concebidos nos primeiros meses do ano, quando o mosquito está mais ativo.

"O número de casos novos de microcefalia caiu, se compararmos com dezembro. Atendíamos cerca de 15 novos casos por semana e agora são quatro", disse à BBC Brasil a infectologista Regina Coeli, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, principal referência para o atendimento da microcefalia no Estado.

"O que vimos até agora é um reflexo de nove meses atrás, quando havia um surto de dengue, zika e chikungunya. Precisamos tomar pé da situação para que o mesmo não ocorra daqui a nove meses."

Em Vitória de Santo Antão (PE), hospital está sobrecarregado
Em Vitória de Santo Antão (PE), hospital está sobrecarregado
Foto: BBC Brasil

'Enxugando gelo'

O cenário em Pernambuco mostra que as medidas de combate ao mosquito podem ter chegado tarde para evitar novas ocorrências. 

Em dezembro, o governo pernambucano anunciou que destinaria R$ 25 milhões a esforços para atender as famílias com casos de microcefalia e para ações de combate ao Aedes aegypti.

No entanto, o Estado já registra uma epidemia de arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos) cujos números superam o do mesmo período no ano passado.

No caso da dengue, cuja notificação é compulsória há mais tempo, o crescimento em relação ao início de 2015 chega a 190%, de acordo com dados divulgados pela Secretaria da Saúde pernambucana.

Novos casos de microcefalia caíram de 15 para 4 por semana no Hospital Oswaldo Cruz
Novos casos de microcefalia caíram de 15 para 4 por semana no Hospital Oswaldo Cruz
Foto: BBC Brasil

Em cidades como Vitória de Santo Antão, a cerca de 60 km de Recife, a emergência do Hospital João Murilo de Oliveira atendeu mais de 3 mil pacientes a mais do que sua capacidade – 70% deles com sintomas de uma das três arboviroses.

"Entre novembro e janeiro tínhamos uma queda nos atendimentos, mas esse ano já estamos superlotados. O pico das viroses, que era nos meses de março, abril e maio, veio antes", disse a diretora do hospital, Roberta Camara.

"Muitas pessoas têm chegado aqui com manchas vermelhas no corpo. Até os nossos funcionários estão adoecendo. Estamos superlotados e a sensação é de que estamos enxugando gelo."

Segundo Camara, o hospital recebeu mais de 90 mães com sintomas que podem ser de zika vírus em janeiro – 40 a mais do que no mês anterior. Desde o último mês de outubro, a cidade teve 26 casos suspeitos de microcefalia notificados.

"As gestantes são um alerta para nós. E elas chegam muito assustadas com a possibilidade de terem zika."

Desespero

Luciana Verçosa, de 33 anos, falou com a reportagem da BBC Brasil enquanto aguardava resultados de testes para saber se tinha dengue ou chikungunya. O teste para diagnosticar o zika vírus, que é feito em Recife, demora cerca de 15 dias para ficar pronto.

Ela está grávida de cinco meses e há uma semana sente dores nos pés, coceira e tem manchas vermelhas pelo corpo. "Vim para cá hoje na esperança de a médica me examinar e dizer que não é nada. Nem estou preocupada comigo, sei que as manchas vão passar. É mais com meu filho mesmo."

Em seu bairro, diz ela, é raro receber visitas de agentes de saúde. Família, vizinhos e colegas de trabalho pegaram algum tipo de dengue, chikungunya ou zika.

"Vim na esperança de a médica me examinar e dizer que não é nada", disse Luciana Verçosa
"Vim na esperança de a médica me examinar e dizer que não é nada", disse Luciana Verçosa
Foto: BBC Brasil

"Já gastei tanto repelente que nem sei mais o que usar. Na minha casa não tem foco, mas não sei na dos outros. Se for o mosquito, só pode ser na casa de alguém."

O coordenador-geral de Vigilância em Saúde de Vitória de Santo Antão, Marcos Santos, diz que a cidade ainda não recebeu verba estadual prometida para ações contra o Aedes aegypti. O repasse do governo federal chegou, mas menor do que nos anos anteriores.

Além do lixo espalhado nas ruas – que pode acumular água limpa e servir de foco para as larvas do mosquito –, bairros da cidade costumam ficar mais de um mês sem água. Por isso é comum que pessoas armazenem em casa.

"Nosso problema com o mosquito é grande. A gente fica pensando até quando vai conseguir vencer", afirma Santos.

"Já tivemos outras epidemias e conseguimos acabar com elas, mas agora vemos que o mosquito está se alastrando. Ficamos até em desespero, porque estamos apagando incêndio com pouca água."

Microcefalia recua, mas alta nas infecções preocupa PE:
Fonte: BBC Brasil
Fonte: Terra
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