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OMS: zika, incertezas e preocupações em alta

28 jan 2016 - 12h40
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) debateu o tema da zika em reunião na tarde desta quinta-feira em Genebra. A epidemia é prioridade, mas as incertezas permanecem devido à não confirmação de causalidade entre o vírus e o aumento de nascimento de bebês com microcefalia.

"O possível vínculo (entre vírus e má-formação), apenas recentemente suspeitado, mudou rapidamente o risco de perfil de uma ameaça moderada para uma de proporções alarmantes", disse a diretora-geral da organização, Margaret Chan.

"Ainda que o elo causal entre a infecção pela zika durante a gravidez e a microcefalia não tenha sido - e enfatizo isso - estabelecido, as evidências circunstanciais são sugestivas e extremamente preocupantes. Um aumento da ocorrência de sintomas neurológicos, notados em alguns países em coincidência com a chegada do vírus, aumentam a preocupação", prosseguiu Chan.

De acordo com a diretora, há quatro aspectos que preocupam a comunidade internacional: primeiro, a associação - ainda não completamente desvendada, na visão da OMS - entre o vírus e a má-formação de bebês.

Em segundo lugar, o risco de dispersão internacional do vírus; terceiro, a falta de imunidade ao vírus na população; quarto, a ausência de uma vacina e de um diagnóstico imediato.

Além disso, Chan também destacou o padrão do fenômeno climático El Niño, de altas temperaturas, que favorecerão em 2016 o aumento da população do mosquito vetor, Aedes Aegypti, complicando a situação ainda mais.

A diretora-geral da OMS convocou uma reunião de emergência para tratar do assunto e representantes nacionais deverão se encontrar em Genebra na segunda-feira.

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América Latina

Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças comunicáveis da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), falou em nome das Américas durante a reunião em Genebra.

Espinal ressaltou que o "zika não é como ebola" e que isso seria positivo, pois o contágio é uma brecha para o controle. "Temos o mosquito como veículo", disse. "O esforço-chave está no combate ao vetor".

Segundo Espinal é necessário observar como a epidemia evoluirá na América Latina.

"Estamos seguindo a Colômbia muito de perto".

De acordo com o especialista, a questão central é "por que tantos países (afetados)? Precisamos ter controle agressivo contra o vetor". Dada a velocidade de dispersão do vírus "podemos esperar entre 3 e 4 milhões de casos de zika", avaliou Espinal.

"Em tempo será publicado um estudo reconhecendo a associação entre zika e microcefalia", prometeu. "Precisamos de mais estudos, mas a evidência está aí".

O diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde do Brasil, Cláudio Maierovitch, também participou da reunião da OMS por audioconferência.

Falando em inglês, Maierovitch explicou ao painel a evolução dos casos de microcefalia que foram inicialmente detectados em Pernambuco e como o país investiga a ligação entre o vírus e a microcefalia.

"Primeiro tivemos testes positivos de zika em amostras de líquido amniótico de dois bebês, depois em amostras de tecido de outros óbitos", afirmou.

"No nosso último relatório foram mais de 4 mil casos (reportados), mas muitos serão descartados. Tivemos seis crianças nascidas com microcefalia testadas em tempo real (no momento do nascimento dos bebês) em PCR (técnica que busca fragmentos do vírus diretamente no sangue do paciente), que mostra muito fortemente para nós a relação entre zika e microcefalia".

"A concentração está no Nordeste, mas esperamos ainda ter mais casos de zika. Os Estados que ainda não reportaram casos devem confirmar a qualquer momento agora", disse Maierovitch, ressaltando que o avanço do vírus é rápido e que a epidemia é grave.

"Em Pernambuco tínhamos por ano entre dez e 12 casos de microcefalia. Em nosso primeiro relatório de outubro já registrávamos 28 casos em apenas dois meses."

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