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OPS estima que haverá até 3 milhões de casos de zika na América Latina

12 fev 2016 - 22h51
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A Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) estima que haverá de dois milhões a três milhões de casos de zika na América Latina e alerta que os 100.000 registrados até o momento "não refletem a magnitude da situação", porque muitas pessoas não vão ao médico por não apresentar sintomas ou se estes forem leves.

"Esse dado não representa o alcance que achamos que o zika vírus tem, precisamos de melhores diagnósticos. O Brasil já estimou que chegará a ter 1,3 milhão e a Colômbia mais meio milhão", declarou hoje Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Contagiosas da OPS, na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) em Washington.

O especialista baseia sua estimativa no fato de que em 2015 houve na região 2,3 milhões de casos de dengue e 600.000 de chicungunha, doenças transmitidas pelo mesmo mosquito portador do zika vírus, o Aedes aegypti.

"Não me surpreenderia que tenhamos dois milhões ou três milhões de casos de zika, porque estamos vendo que o mosquito o transmite com tanta ou mais eficácia que o chicungunha", comentou Espinal.

A América Latina é a região mais afetada pelo atual surto de zika: 26 dos 30 países e territórios onde se registrou a transmissão local do vírus pertencem à região.

"Toda a população está em risco, porque o vírus é novo no continente e, portanto, ninguém tem imunidade", ressaltou Espinal.

O especialista insistiu que "ainda não se pode falar de causa-efeito" se uma grávida se contagiar com zika e seu bebê nascer com microcefalia, até agora o elemento de maior preocupação sobre o vírus.

"Só podemos falar de vínculo potencial. Brasil e Colômbia estão fazendo estudos de casos que nos dirão muito sobre esta questão", completou.

O diretor de estratégia da Organização Mundial da Saúde (OMS), Christopher Dye, quis ressaltar, por sua parte, que a "evidência causal" entre o zika e a microcefalia "é mais e maior".

"Neste caso, o zika é culpado até que não se prove inocente", comentou.

Dye previu que ocorrerão "muitos mais casos" de microcefalia na América Latina, mas admitiu que, neste momento, é impossível fazer previsões com mais precisão.

"O Brasil reportou 4.000 casos de microcefalia e o número de casos vai aumentar na América Latina, não sabemos até quanto, mas não há dúvida que é um motivo de grande preocupação", disse.

Uma das dúvidas despertadas pela possível relação com a microcefalia é em que período da gravidez se corre mais risco se a mulher estiver infectada com zika.

"O primeiro trimestre é sempre o mais vulnerável, portanto é mais provável que o efeito seja mais profundo nesse período, mas não podemos dizer que não pode ocorrer nos outros dois trimestres, porque já vimos alguns casos", afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos ainda não têm nenhum caso de contágio autóctone por picada de mosquito, mas Fauci não descarta que possa haver "mini surtos" nos estados onde está presente o inseto: Flórida, Texas e o resto do Golfo do México.

A cada ano viajam cerca de 30 milhões de pessoas entre Estados Unidos e América Latina, a metade delas mulheres grávidas, segundo os dados fornecidos por Fauci para dar uma ideia do risco de contágio que existe.

"Não seria surpreendente ver contágios locais, mas é altamente improvável que se expandisse de maneira ampla. Já tivemos mini surtos de dengue e chicungunha na Flórida e Texas e os resolvemos controlando o mosquito", apontou.

Enquanto se desenvolvia a entrevista coletiva em Washington foi divulgada a notícia que um grupo de cientistas encontrou restos de zika no sêmen (não no sangue nem na urina) de um homem britânico de 68 anos, contagiado durante uma viagem às Ilhas Cook em 2014, tanto no 27º dia depois da detecção do contágio como no 62º.

As conclusões do estudo, elaborado por pesquisadores da agência executiva do Departamento de Saúde britânico (PHE, na sigla em inglês), foram antecipadas hoje pelo site da revista "Emerging Infectious Diseases", dos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, antes de sua publicação em maio.

O caso do homem britânico seria o segundo no qual se detecta a presença do vírus no sêmen, após o de um homem contagiado em 2013 na Polinésia Francesa, segundo informações divulgadas pelos CDC.

Além disso, foram informados pelo menos dois casos de transmissão sexual do vírus. O primeiro ocorreu quando um cientista contagiou sua mulher no Colorado (EUA) na volta de uma viagem de trabalho no Senegal em 2008.

O segundo foi relatado recentemente, quando as autoridades de Dallas (EUA) informaram que um homem tinha contagiado sua esposa após infectar-se pela picada de um mosquito em outro país.

Por enquanto não existe nem vacina nem tratamento contra esse vírus que foi descoberto nos anos 1950 na floresta Zika de Uganda.

EFE   
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