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Plantas medicinais viram aliadas no combate contra a dengue no Paraguai

29 jan 2016 - 10h04
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Os tradicionais "remédios yuyos", as plantas medicinais cujo uso é creditado à herança da cultura indígena guarani, são vistos como aliados na luta contra a dengue, a chicungunha e o zika, os três vírus que mantêm o Paraguai em estado de alerta epidemiológico.

Perante a "psicose coletiva", suscitada pelo elevado número de casos suspeitos destas doenças, é cada vez maior o número de paraguaios que vão ao popular Mercado 4 de Assunção para buscar ervas que sirvam para aliviar seus sintomas, disse à Agência Efe Javier Torres, representante dos vendedores de remédios naturais nesse local.

Plantas como a citronela, o cedrón kapi'i (capim-limão) e as folhas de mamão papaia lideram a lista de vendas neste mercado, depois que o Ministério da Saúde Pública advertiu à população sobre os riscos dos vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti.

A estrela da tenda é a citronela, muito apreciada em perfumaria por seu potente aroma e que é também um eficaz repelente natural para os mosquitos, segundo Torres.

Se o paciente já contraiu um dos vírus, friccionar sobre a pele um remédio preparado com citronela diluída em álcool pode ajudar a aliviar as dores musculares e articulares que são características dessas doenças, de acordo com a tradição.

Da mesma família da citronela é o capim-limão, que os paraguaios costumam agregar como erva refrescante em seus chás de mate com água fria, conhecidos como tereré e que são um símbolo de sua identidade.

A planta é usada como "reguladora do fluxo sanguíneo" em pessoas já afetadas pelos vírus, embora Torres advirta que seu uso em quantidades excessivas pode provocar uma queda da pressão arterial.

Já as folhas da árvore do mamão são consideradas um antídoto contra a deterioração da saúde provocada pela dengue, e os vendedores consideram inclusive que o chá de uma destas folhas contribui para elevar a quantidade de plaquetas disponíveis no sangue, cujo número cai em pacientes com quadros graves da doença.

Além destas plantas, Torres prescreve aos afetados de dengue uma peculiar poção à base de sementes de abóbora, melancia e melão esmagadas e cozidas em meio litro de água: a conhecida "horchata".

Trata-se de uma bebida que, temperada com fibras de açafrão, contribui para baixar a febre, fazendo o papel de um paracetamol natural sem contraindicações conhecidas.

Um efeito parecido é o que tem a mistura de folhas secas de verbena e raízes de agrião trituradas, segundo disse à Agência Efe Simeone Acosta, uma das vendedoras mais veteranas do Paseo de los Yuyos, como é conhecida a rua do Mercado 4 onde se concentram os postos de remédios naturais.

Torres acredita que o segredo do sucesso destas plantas medicinais é que "são baratas, não têm efeitos colaterais e estão sempre disponíveis", ao contrário do que ocorre com xaropes e pastilhas.

Assim, ressaltou que muitas pessoas vão ao Mercado 4 porque não contam com os meios econômicos para comprar um remédio convencional ou porque, perante o aumento do número de consultas por casos febris, as farmácias dos hospitais começam ter problemas com o desabastecimento.

Mas, principalmente, trata-se de "uma questão cultural", dado que "os paraguaios estão acostumados a tomar remédios naturais com o mate ou o tereré desde que se levantam até quando se deitam, e esse conhecimento das plantas faz parte de sua herança cultural", segundo Torres.

Os "yuyos" estão tão enraizados no país que a Câmara dos Deputados do Paraguai declarou em 2014 o dia 1º de agosto como Dia do Poha Ñana ("ervas medicinais" em guarani).

Além disso, o Paseo de los Yuyos foi reconhecido como "lugar turístico", e as plantas medicinais autóctones foram nomeadas como "bem cultural e patrimônio nacional".

O Paraguai permanece em alerta epidemiológico por dengue, zika e chicungunha desde o começo do ano, devido à circulação destes vírus na região.

As elevadas temperaturas estivais e o acúmulo de água parada após as inundações no país são uma combinação perfeita para a reprodução dos mosquitos vetores destas doenças, segundo as autoridades sanitárias.

EFE   
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