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Qual é o impacto de ficar dois anos sem sair à rua?

19 ago 2014 - 16h56
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Tom de Castella

BBC News Magazine

O fundador do site Wikileaks, Julian Assange, anunciou na segunda-feira que deixará a Embaixada do Equador em Londres "em breve".

Assange se refugiou na embaixada em junho de 2012, para evitar a extradição para a Suécia, onde é procurado por crimes sexuais. Se sair do prédio da embaixada, poderá ser preso.

Em uma entrevista coletiva, o fundador do Wikileaks afirmou que não tem acesso a áreas externas da embaixada. Até pessoas saudáveis teriam dificuldade em viver confinadas durante tanto tempo, disse Assange.

Ele foi reticente quanto à data na qual vai deixar a embaixada e as razões para abandonar seu refúgio dos últimos dois anos. E, depois do anúncio, surgiram especulações de que estaria sofrendo com problemas de saúde.

Informações divulgadas pela imprensa sugerem que Assange precisa de tratamento para uma série de problemas: arritmia, pressão alta e uma tosse crônica.

Vitamina D

O maior problema para a saúde depois de um confinamento muito longo é a deficiência de vitamina D, seguindo a médica Sarah Jarvis, contactada pela BBC.

Cerca de 85% a 90% da vitamina D necessária para uma pessoa vem da luz do sol. Dezenas de problemas já foram associados com níveis baixos desta vitamina, desde depressão e dores até osteoporose e doença cardíaca.

Simon Griffin, professor da Universidade de Cambridge, afirma ainda que comprimidos de vitamina D não parecem fazer muito efeito. Uma cama de bronzeamento ou lâmpada com raios UV podem ajudar, mas não é aconselhável fazer uso destes aparelhos por dois anos.

O uso destes aparelhos está ligado ao desenvolvimento do melanoma, uma forma de câncer de pele.

É improvável que dois anos sem sair de um lugar causem grande danos ao corpo se a pessoa submetida ao confinamento tomasse providências para receber um pouco de luz do sul, praticasse exercícios e tivesse uma dieta saudável, de acordo com Griffin.

Ar-condicionado também não deve ter feito mal a Assange. De acordo com o professor de Cambridge, o maior perigo é a mudança de humor.

A luz do sol faz com que as pessoas se sintam mais felizes e há uma sacada na embaixada. Ocasionalmente, Assange falou para simpatizantes a partir desta sacada.

E Griffin afirma que apenas a exposição do rosto e antebraços ao sol, regularmente, pode ajudar a melhorar o humor.

Algo que é impossível avaliar no momento é o estado mental de Assange.

De acordo com a psicóloga Linda Blair, tudo depende de como a pessoa confinada interpreta a própria situação.

Quando Assange chegou à embaixada, ele tinha conseguido evitar uma captura e pode ter se sentido eufórico naquela época. Mas, depois de dois anos, ele ainda está na embaixada. "Está relacionado com a atitude mesmo. Ficamos muito agressivos quando nos tiram a liberdade", disse.

Alguns prisioneiros de guerra conseguem até participar de jogos e celebrar o fato de que ainda estão vivos em meio a condições terríveis, de acordo com Blair.

"Você não precisa se sentir preso. Sentir que você tem o controle é crucial", disse a psicóloga.

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