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Sêmen com Aids é analisado como possível barreira temporária contra o HIV

25 fev 2015 - 15h11
(atualizado às 15h11)
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Uma substância humana que poderia ajudar a diminuir o risco de adquirir Aids no ato sexual: é isso que o cientista argentino Edmundo Kraiselburd pesquisa em Porto Rico, estudando se algumas microfibras e partículas defeituosas de HIV podem ter essa função.

Em entrevista à Agência Efe, Kraiselburd disse que há cinco anos tenta determinar junto a outros cientistas se algumas "partículas defeituosas do vírus da Aids poderiam, inclusive, servir como uma possível vacina".

De acordo com o cientista, embora ele já tenha comprovado que as defesas imunes induzidas por partículas defeituosas não protegem contra a doença, "o sêmen de alguma maneira inibiu a infecção".

A pesquisa começou depois que cientistas e epidemiologistas constataram que um grupo muito pequeno de prostitutas de Nairóbi (Quênia) não se infectava com o vírus da Aids, apesar de ter relações sexuais sem a proteção adequada com homens que estavam infectados.

Este fato levou os cientistas a pensarem que possivelmente estas mulheres teriam um sistema imune ou uma genética diferenciada. Contudo, nada disso poderia ser comprovado cientificamente, até que se descobriu que as mulheres que deixavam o ofício por mais de dois meses e depois voltavam a trabalhar, se infectavam com o HIV.

"Hoje sabemos que a resistência à infecção não está relacionada diretamente a fatores genéticos. A ideia que sustentamos é que essas mulheres tinham que ter um estímulo constante do sêmen dos clientes que as protegia de maneira transitória contra o vírus", explicou o virólogo.

Segundo Kraiselburd, que também é diretor do Programa de Pesquisa de NeuroAids da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Porto Rico, em San Juan, "deve haver substâncias no sêmen de algumas pessoas que podem inibir temporariamente a infecção".

Edmundo Kraiselburd começou seus trabalhos no início da década de 80 e recebeu amostras do vírus HIV quando o virólogo francês Luc Montagnier, Prêmio Nobel 2008 pela descoberta desse vírus, o levou ao seu laboratório da Universidade de Porto Rico.

"Nossos experimentos indicam que no macaco-rhesus a presença de sêmen consegue inibir parcialmente a infecção genital do vírus da Aids dos símios", disse Kraiselburd, que contou que seu interesse pela pesquisa sobre o vírus se dá pelo grande impacto social que tem.

Através de um convênio científico com o Instituto Pasteur da França, o virólogo Montagnier pediu que fosse desenvolvido um modelo animal contra a Aids, usando macacos do Centro Caribenho de Pesquisa de Primatas da universidade, com o objetivo de conseguir uma vacina.

"Pensávamos que o mais lógico era que o HIV se replicasse em macacos, mas como cientista é preciso ser bem conservador e primeiro tratamos de infectar células de macaco 'in vitro'. No entanto, para nossa surpresa, comprovamos que o vírus não as infectava. Foi bem difícil convencer um Prêmio Nobel e à comunidade científica desta descoberta. Hoje sabemos que o macaco-rhesus produz substâncias (fatores de restrição) que inibem a replicação do HIV", lembrou Kraiselburd.

EFE   
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