Sonambulismo: entenda o distúrbio e saiba como tratá-lo Sonambulismo: entenda o distúrbio e saiba como tratá-lo Danielle Barg Na ficção, o personagem Jorginho, vivido pelo galã Cauã Reymond na novela global Avenida Brasil, se lembra da infância, chama pelos pais, levanta da cama, abre a porta do quarto e caminha – tudo isso, enquanto está dormindo. Em um episódio, chegou a caminhar pela rua e quase ser atropelado. Jorginho é sonâmbulo e, durante suas crises, fica agitado e até coloca a própria vida em risco. Embora acometa uma pequena parcela da população mundial (cerca de 17% de crianças e 1 a 2% de adultos), o sonambulismo é um distúrbio do sono que acontece em pequenas crises – é como se tudo despertasse, menos a consciência. Navegue pelas abas e descubra quais são os comportamentos mais comuns de um sonâmbulo e as formas de preservar a sua integridade física. O que é o sonambulismo O sonambulismo é um distúrbio do sono que, segundo Leonardo Ierardi, neurofisiologista do Instituto do Cérebro do Hospital Albert Einsten, antigamente era tratado como “distúrbio do despertar”, ou seja, é uma situação em que algumas funções neurológicas ficam ativas, despertam, enquanto outras funções neurológicas continuam dormindo. “Geralmente, conseguimos despertar várias funções ao mesmo tempo; quem é sonambulo não consegue fazer isso”. Como age um sonâmbulo De acordo com o neurofisiologista, as manifestações noturnas podem ser de várias naturezas, que variam desde as ações mais simples, como se movimentar na cama, sentar e deitar-se do outro lado – muito comum entre as crianças – até os mais elaborados, como trocar de roupa ou andar pela casa. Fatores que contribuem Segundo os especialistas ouvidos pelo Terra, a maior parte dos casos de sonambulismo tem a ver com uma pré-disposição genética. Dentro destes casos, existem fatores desencadeantes que funcionam como gatilhos para a ocorrência das crises. Leonardo explica que os fatores podem ser internos ou externos. Os internos podem ser provocados por diversas doenças ou situações como febre, privação de sono, TPM, bexiga cheia, apneia, tireoide ou qualquer outra coisa que provoque o despertar. Já entre os fatores externos, o mais comum é o estresse, além de outros empecilhos como ruídos, medicações, álcool e drogas. Frequência A frequência das crises varia de acordo com os fatores internos e externos aos quais o sonâmbulo é exposto. Durante uma noite, inclusive, o sonâmbulo pode ter mais de uma crise, conforme explica Leonardo. “O sonambulismo acontece geralmente durante a fase do sono mais profundo, que dura minutos. Ou seja, se ele voltar a dormir e voltar para essa fase, a crise pode sim acontecer novamente”. Segundo o especialista, a duração de uma crise geralmente é pequena, mas pode variar entre 5 e 20 minutos, nos casos mais graves. Comportamento A figura clássica do sonâmbulo tateando o ar com os braços esticados e olhos fechados nem sempre corresponde à realidade. Leonardo acredita que o estereótipo pode ter sido criado porque, de um modo geral, as pessoas levantam no escuro, então muitas vezes usam os braços para ter uma noção espacial de onde estão andando. No entanto, o sonâmbulo anda com os olhos abertos, já que está parcialmente acordado. Mas, de um modo geral, fica um pouco mais lento, com o olhar parado, bem diferente do que é quando está totalmente acordada. No dia seguinte É comum que o sonâmbulo simplesmente não se lembre de nada do que aconteceu na noite anterior à crise. Também não chega a sentir fadiga, a menos que tenha feito algo que comprometeu sua integridade física. “Não existe cansaço porque para ele é como se de fato estivesse dormindo. Muitas vezes, para quem é adulto ou casado, quem sente mais é o companheiro”, explica o especialista. Casos mais frequentes Os especialistas ouvidos explicam que o sonambulismo é mais comum na infância. “Estatísticas mundiais mostram que a prevalência é de até 17% até os 13 anos de idade, provavelmente porque o sistema cerebral que coordena o sono está amadurecendo ainda na infância, então isso pode ser uma reação de ajuste”, explica Leonardo. O neurofisiologista explica que o número de pessoas sonâmbulas adultas é muito pequeno, e, de acordo com a literatura especializada no tema, somente de 1% a 2% das pessoas apresentam o distúrbio. Quando procurar ajuda Caso os episódios estejam muito frequentes, ou, de alguma forma, atrapalhando a vida do sonâmbulo e das pessoas à sua volta, é hora de procurar tratamento. Rosa Hasan, neurologista especialista em doenças do sono do Hospital e Maternidade São Luiz, explica que o sonambulismo das crianças tende a desaparecer com a idade. “Se forem episódios isolados, não há motivo para preocupação. Mas se começar a ser algo que traz problemas para a criança e para os pais, aí é preciso procurar ajuda médica”. Tratamento Os tratamentos para o sonambulismo dividem-se em dois tipos – farmacológico ou não farmacológico. Leonardo explica que as alternativas que não consideram o uso de remédio geralmente são baseada em psicoterapia ou técnicas de relaxamento, nem sempre muito eficazes. Já o tratamento medicamentoso envolve alguns tipos de antidepressivos. Família alerta A família de um sonâmbulo deve estar sempre alerta para evitar que a pessoa tenha atitudes perigosas durante as crises. De acordo com Rosa, entre as principais medidas de segurança estão ações para preservar a integridade física do sonâmbulo como fechar janelas, sacadas e portas, além de tentar proteger a passagem para escadas ou impedir o acesso a objetos cortantes. Leonardo lembra também que a memória do sonâmbulo continua intacta, então, se ele fechar a porta da casa e esconder a chave, provavelmente irá se lembrar onde ela está no momento da crise. O especialista conta de casos em que o paciente levantou, se vestiu, encontrou a chave e só acordou quando estava dentro do carro, na garagem. Existem relatos de pessoas que colocaram a vida em risco, por isso, os familiares do sonâmbulo devem se esforçar para manter a segurança de todos. Mito: acordar ou não acordar? Eis a questão O grande medo das pessoas que convivem com sonâmbulos é acordá-los no momento de uma crise. Leonardo afirma que não passa de uma crendice popular o mito que diz que se um sonâmbulo for acordado, pode morrer. “O que ocorre é que no momento da crise ele está em um sono mais profundo, então pode ser mais difícil acordar a pessoa”, explica. Muitas vezes, a pessoa acorda confusa ou apavorada, mas essa é a forma como qualquer pessoa se comporta ao ser despertada da sua fase de sono mais profunda. mais especiais de saúde