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Tracoma, a doença que ameaça 200 milhões de pessoas

2 mai 2016 - 06h04
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Mais de 200 milhões de pessoas de 51 países de África, Ásia e América Latina correm o risco de terem tracoma, uma infecção bacteriana que afeta os olhos e praticamente só é registrada nos países menos desenvolvidos.

Conforme dados de 2015 da Organização Mundial da Saúde (OMS), a África é o continente mais atingido por esta doença, mas conta com a ajuda da International Trachoma Initiative (ITI), que se propõe acabar com a enfermidade até 2020, junto à International Coalition for Trachoma Control (ICTC).

Uganda, um país com 37 milhões de habitantes, dos quais 8 milhões correm o risco de ter tracoma, doença provocada pela bactéria 'chlamydia trachomatis', é um dos mais afetados na África por este problema, cujo custo econômico global anual por perda de produtividade é estimado em até US$ 6 trilhões, segundo a ITI.

B.E. é um médico que opera há alguns anos em um pequeno hospital ugandense com apenas seis quartos no distrito rural de Mayuge, a três horas de carro da capital do país, Kampala. Há nove anos, o tracoma era endêmico em Mayuge, e 14% das crianças com idades entre 1 e 9 anos tinham a doença, frente aos 2% atuais.

B.E. contou à Agência Efe que realiza, em média, seis operações por dia em pacientes com tracoma avançado e com a visão parcial ou totalmente perdida. As cirurgias são feitas para frear o avanço da doença e sanar a dor, já que a recuperação da visão é impossível. Um dos casos que tratou recentemente é o de um homem, que levou três anos para procurar os médicos porque tinha medo da cirurgia.

Perto do hospital, uma aula ao ar livre sobre o tracoma acontece na Escola Primária de Kyebando, onde os alunos aprendem que a falta de higiene provoca a propagação da doença.

O tracoma é transmitido por contato com secreções oculares e nasais de pessoas infectadas. Também é propagado através das moscas que estiveram em contato com os olhos ou o nariz de uma pessoa infectada. A infecção causa inflamação e formação de cicatrizes na superfície do olho e faz com que a pálpebra fique invertida e as pestanas toquem o globo ocular.

Segundo a ITI e como resultado de sua estratégia global, em 2012, Omã foi o primeiro país a se declarar livre do tracoma. Depois vieram China, Gâmbia, Gana, Irã, Marrocos, Mianmar e Vietnã.

Além do tracoma, a Uganda, país conhecido pela sangrenta ditadura de Idi Amin e que em fevereiro reelegeu como presidente Yoweri Museveni em um pleito qualificado como fraudulento pela oposição, enfrenta outros problemas de saúde.

O país lidera a lista de número de casos de malária, e o número estimado de mortes por esta doença transmitida pelo mosquito Anopheles, ronda entre 70 mil e 100 mil por ano, segundo ONGs que trabalham na região.

A Aids - 7,2% da população é portadora do vírus HIV - e as infecções respiratórias são as outras duas causas que mais matam. No entanto no caso da Aids, Uganda é um dos países da África que mais sucesso tem em seu combate, já que saiu de uma porcentagem de 35% de pessoas infectadas.

A diretora da ONG Save the Children em Uganda, Sarah Naikoba, disse à Efe que outro problema de saúde grave no país é o alcoolismo. Em sua opinião, a prevenção de determinadas doenças poderia ser melhor, mas a falta de entendimento entre governo, agências e doadores internacionais, é um dificultador para que os programas de saúde sejam bem-sucedidos.

Com 1,8 médico para cada 1.000 habitantes - o recomendado é 2,5 -, Uganda quase atingiu o objetivo do Milênio em mortalidade infantil, e a expectativa de vida rodada os 60 anos.

O tracoma é uma doença antiga, e seus primeiros casos datam do século XXVII a.C, na China. De acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica, vinculado ao Sistema de Vigilância Epidemiológica do estado de São Paulo, a doença chegou ao Brasil com a colonização e imigração europeias no século XVIII, no Nordeste.

A primeira medida nacional contra a doença foi tomada em 1923. Atualmente, o Ministério da Saúde mantém ações de controle nas regiões com maior incidência, através da Fundação Nacional da Saúde.

EFE   
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