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Infecção congênita da zika pode provocar surdez nas crianças

30 ago 2016 - 16h10
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A infecção congênita do vírus da zika deve ser considerada um fator de risco para a audição infantil, é a conclusão de um novo estudo publicado nesta terça-feira nos Estados Unidos que mostra seu vínculo com a surdez neurossensorial.

Até agora, o vírus da zika esteve relacionado com a microcefalia e outras doenças do cérebro, oculares e lesões ortopédicas dos filhos de mães infectadas durante a gravidez, mas muito pouco se sabia sobre a perda de audição infantil associada à infecção.

Sobre esse aspecto, lança uma luz este novo estudo elaborado pelo Hospital Agamenon Magalhães, no Brasil, em colaboração com outras instituições e publicado hoje pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Para elaborá-lo, foram avaliadas 70 crianças menores de dez meses com microcefalia e infecção da zika entre novembro de 2015 e maio de 2016, dos quais foi descartada uma que tinha recebido um tratamento ototóxico, que é prejudicial para o ouvido.

Cinco das crianças, 5,8%, testaram positivo para surdez neurossensorial, um tipo de hipoacusia, que é o termo médico para a incapacidade total ou parcial de ouvir sons em um ou ambos os ouvidos.

A parte interna do ouvido contém células pilosas diminutas (terminações nervosas), que são responsáveis por transformar os sons em sinais elétricos. Os nervos levam depois esses sinais ao cérebro.

A hipoacusia neurossensorial está causada pelo dano a essas células especiais e às fibras nervosas no ouvido interno. Algumas vezes, a hipoacusia é consequência do dano ao nervo que leva os sinais ao cérebro.

Todas as crianças que testaram positivo para esta dolência no estudo sofrem de microcefalia severa.

O mais alarmante sobre o atual surto de zika, que afeta principalmente a América Latina e o Caribe, é sua vinculação com a microcefalia, uma afecção na qual bebês e crianças pequenas desenvolvem uma cabeça de tamanho menor que o normal, o que pode trazer problemas de desenvolvimento.

Faltando novas pesquisas a respeito, o estudo brasileiro recomenda que todas as crianças nascidas de mulheres infectadas com a zika durante a gravidez sejam submetidos a exames auditivos, inclusive os que não apresentam nenhuma evidência de microcefalia ou outra doença congênita ao nascer.

O que já foi comprovado amplamente é que a surdez neurossensorial congênita pode ser causada por doenças como o citomegalovírus (CMV, relacionado com os vírus que causam a catapora e a mononucleose infecciosa), a rubéola, a toxoplasmose (causada por um parasita), a herpes simples e a sífilis.

Nessas doenças, a surdez é neurossensorial, de ambos os ouvidos, severa e profunda, mas frequentemente não pode ser detectada no momento do nascimento e às vezes é progressiva e oscila.

Após comprovar que quatro das 70 crianças com microcefalia estudadas apresentaram surdez neurossensorial sem nenhuma outra causa potencial, os autores do estudo recomendam que esta dolência seja considerada parte do espectro clínico associado com a infecção congênita do vírus da zika e que a infecção seja considerada um fator de risco de perda auditiva nas avaliações médicas.

Além disso, as crianças com infecção congênita da zika que não apresentem surdez nos testes efetuados no nascimento, devem receber acompanhamento regular, já que a doença pode se desenvolver mais tarde e a perda de audição ser progressiva.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou no dia 1º de fevereiro deste ano que as más-formações congênitas, sobretudo a microcefalia, e os transtornos neurológicos (Síndrome de Guillian-Barre) ligados ao contágio da zika constituíam uma emergência sanitária de alcance internacional, mas descartou incluir como tal o surto em si mesmo.

A zika é um vírus que é transmitido pela picada de mosquitos do gênero Aedes, como a dengue e a chicungunha, e cujos sintomas são similares, mas mais leves: manchas na pele, febre, dores musculares e nas articulações.

Muitas pessoas infectadas com zika não vão ao médico por não apresentarem sintomas ou por confundirem estes com os de um resfriado ou uma gripe, o que complica o acompanhamento do vírus por parte das autoridades sanitárias.

Por enquanto, não existe vacina ou tratamento contra um vírus que foi descoberto nos anos 1950 na floresta Zika, em Uganda, que deu origem ao seu nome.

EFE   
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